Cecilia

MALHAÇÃO DOJUDAS

                   MALHAÇÃO DO JUDAS

 

A vila se reune para costurar um boneco,

a figura do Judas, objeto da vingança coletiva.

  

Com mágoa antiga, a viúva separou roupa 

do finado, bebedor e mulherengo.

 

Com vergonha de castigos injustos,

os meninos desfiaram o recheio de palha.

 

Com linha grossa, e a carência das noites

vazias, a tia costurou pernas e braços.

 

Com ódio dos namoros da mulher

o corno encheu o boneco de morteiros.

 

Com carvão e revolta, na cara do monstrengo,

o peão riscou os  bigodes do coronel.

 

Com  saudade do sedutor, e o chapéu 

esquecido, a mãe solteira completou a obra.

 

Sexta-Feira Santa, quanta raiva!

Junta a fome do jejum, da abstinência,

a tristeza da paixão de Cristo,

mais as dores que a vida traz.

 

No Sábado de Aleluia descarregamos 

a fúria no Judas, bode expiatório

de nossas frustrações. 

 

Entre gritos e cusparadas, a gente arrasta,

bate e rasga, até o maligno explodir

em chamas, pólvora e enxofre.

 

Judas morreu.   Cristo ressuscitou.

De alma lavada, cheios de esperança,

celebramos o Domingo de Páscoa.

 

 

  • Autor: Cecília Cosentino (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 6 de Julho de 2020 21:44
  • Comentário do autor sobre o poema: Poema escrito para o Folclore de Olímpia, sobre costume tradicional no interior do país.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 15

Comentários1

  • Chico Lino

    Gostei muito... é isso, MALHAÇÃO DO JUDAS, a catarse nacional, de lavar a alma, é que precisamos... Providencial, Cecília.



Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.