Letícia Alves

Saber Viver - Carta à 'lifetime' (enquanto a vida durar)



Sentir falta de algo.
Agradecer por ter algo
em que se apegar;
Abraçar a recordação
quentezinha.

Ter certeza da vida;
Não querer morrer –
ser semente plantada,
regada e reerguida.

Aprender com a água
que corre entre as pedras;
correr como a correnteza,
trazendo beleza.

Pensar em tudo e pensar
em nada; Inalar o céu
com o olhar – (re)encantar.

Andar equilibrando-se na
corda bamba da vida; dirigir
a corda do violão que quebra;
tocar a banda noutras
bandas – aventurar-se.

Escrever cartas a si mesmo;
gastar os 'eu te amo's com os
amigos queridos, preciosos;
Pintar uma casinha branca
com todos eles dentro.

Aprender a lidar com os
encontros e despedidas;
Reter o que for melhor
dos nossos pais.

Devolver todo o carinho que
receber; Anunciar o que está
por vir; querer a felicidade;
Dançar na chuva até o sol volver.

Gostar e respeitar o seu lugar
comum; Aquarelar o seu dia a dia;
chorar os oceanos que forem
precisos, desaguando o riso.

Sempre aguardar o Segundo Sol;
Formar palavras ao vento no papel
para lembrar; Fotografar as árvores
de outono e os ¹beija-flores.

Não fingir, ser ²Esfinge;
Não querer o mal de mim –
(re)conciliar. O vento ergue-se,
então eu devo tentar viver.

Ser sozinho e ser amigo;
Aqui e agora. Você bem sabe...
Mas eu apenas queria que você
soubesse disse de novo e, para
todo o tempo da sua vida, registro.


¹Beija-flor: significa beleza, alegria e representa a magia da existência cotidiana, cujas características relacionam-se com o tema da poesia.

²Esfinge: são monumentos construídos na entrada dos templos e pirâmides egípcias como símbolo de proteção e segurança ao local, evitando que estrangeiros ou saqueadores pudessem acessar as áreas internas, desta forma, quis fazer alusão à necessidade de, não ser apenas "aparência" para o mundo exterior, concretizando o objetivo de nos mantermos fiéis à nossa "essência-potência" interna (como diria Platão).


  • Autor: Hyun (em coreano significa: iluminado/inteligente) (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 8 de Outubro de 2023 15:07
  • Comentário do autor sobre o poema: Gravei um cover com uma das minhas músicas preferidas do meu cantor coreano favorito há uns meses e não postei. Mas ao escrever esse poema e relê-lo ouvindo-a, resolvi postar no meu canal do YouTube apenas para poder compartilhar esse sentimento aqui. Espero que sintam o poema tanto quanto eu e mergulhem nele com essa linda canção. (Este poema tornou-se um dos meus favoritos a partir de agora).
  • Categoria: Carta
  • Visualizações: 23
  • Usuários favoritos deste poema: Antonio Luiz, Letícia Alves.

Comentários5

  • Antonio Luiz

    Querida poeta e amiga Letícia,

    É convite para um verdadeiro espetáculo, esse que nos fazes. Cada leitura+audição cria um cenário todo especial para "abraçar muitas recordações quentezinhas". Muito obrigado!
    Parabéns!

    Um abraço!

    • Letícia Alves

      Eu que agradeço, querido poeta Antonio!

      Fico muito contente e grata com esse comentário, “deixa o coração quentezinho”.

      Abraços de luzes!

    • Juca Santos

      Lindo poema! O primeiro que li, da sua produção. Vou ler todos, vagarosamente, para melhor saborear a sensação que sua poesia me trouxe. Parabéns! Amei.

      • Letícia Alves

        Muito obrigada, querido!

        Sempre bom saber que há pessoas que apreciam o que escrevo.
        Fiz o mesmo com os seus poemas, muito belos, aliás.

        Espero que se sinta "adentrando na palavra colorida" quando leres os meus textos.

        Abraço iluminado!

      • Sergio Neves

        SERGIO NEVES - ...minha mui querida Letícia...,...estás sempre a me deixar "de boca aberta"...,...a cada escrito teu tu me impressionas mais e mais...-e levando em conta a tua idade, então... (tens mesmo os 18 anos que no teu "perfil" dizes ter?) ...fico tentando "ver-te" daqui há alguns anos, enquanto poeta...-é um exercício de imaginação bem dificultoso esse......embora todo acúmulo de experiências -de vivências- seja fundamental para aprimoramentos mil, fica muito difícil de "enxergar" alguma coisa além desse teu todo primoroso "estágio" atual...,...o que poderia vir ainda mais pela frente? ...taí esse teu poema a isso me dar razão..,...derramas muita profundidade, muita sabedoria, muito sentimento, muita "magia" a cada verso... -dizes tudo e muito mais sobre esse bem "saber viver" com uma poética de se admirar... / ...é isso...,...eu apenas queria que você soubesse disso (de novo)...-registro... // (PS 1 - ...fizeste uma referência a Monet em resposta a um meu comentário anterior e parece que isso te "despertou" ...,...dele "pinçaste" belo quadro para ilustrar essa tua "carta"...) // PS 2 - ...bonita música que na tua voz ficou mais bonita ainda...) /// Carinhos a ti.

        • Letícia Alves

          O engraçado é que, acredite, eu já tentei não escrever, e foi uma fase bem ruim, emocionalmente falando. Mas também foi de crescimento porque eu percebi que realmente é algo inerente a mim - tenho de fazer. Tem uma frase da Clarice Lispector em que ela diz que ela TEM DE ESCREVER para não morrer. Quando eu li isso, fiquei muito impactada e parei de ler o livro imediatamente e ponderei muita coisa em mim e muitos achismos meus. É algo que ainda tem trabalhado nesse meu mundo particular, mas que ainda tenho muito a percorrer; não tenho o costume ou o prazer (na verdade, ainda, infelizmente, soa como um desprazer) de mostrar as pessoas - aqui no mundo de fora - os meus textos, nem os meus próprios pais sabem que escrevo (e olhe que tenho uma relação ótima com ambos). Sinto como se fosse um devaneio meu que é apenas um mero um registro de um universo interior. O meu 'eu' passado costumava pensar que nem sequer deveria ser compartilhado. haha Hoje eu posto, principalmente, pelo feedback dos queridos leitores daqui que sempre ficam contentes em ler um texto meu e, sobretudo, sentem coisas maravilhosas lendo-os. Hoje penso que se faz bem, devo compartilhar. Contudo, ainda não cheguei no patamar elevado de seguir essa minha nova filosofia à risca. Mas estou caminhando...

          Em relação à minha idade, eu realmente penso que amadureci muito cedo; compreendi muita coisa da vida antes, se comparado aos jovens da minha idade e, além disso, não penso que se aprende algo apenas vivendo, ainda que isso tenha a sua GRANDE importância. Como costumo estar rodeada de assuntos filosóficos - por mais que grande parte das coisas já serem filosóficas em si - (livros, músicas, conversas com amigos, reflexões internas, etc), me apercebo da realidade crua do dia a dia, quer seja boa ou má CONSTANTEMENTE, é exatamente essa sensibilidade que sempre tive que me ajuda (e as vezes sufoca) a captar tais emoções quando escrevo. Eu não preciso estar sentindo dor para escrever sobre a dor da forma mais profunda ou sobre outros tópicos; eu só preciso imaginar, lembrar de sentir e voilà.

          [Digo isso, porque Fernando Pessoa também começou a escrever na infância e com 18 anos já lia os clássicos (além de já escrever muito bem) e isso TRANSFORMA DEMAIS o pensamento e a visão dum jovem, uma vez que o cérebro nessa idade ainda não está formado e cria espécies de "pastinhas" que acumulam tais conhecimentos, e, com o passar do tempo, transformam-se em "áreas" fixas que por serem trabalhadas atingem um POTENCIAL ABSURDO (não é à toa que muitos dos grandes pintores na juventude fizeram as suas maiores obras). E como o Pessoa escrevia desde sempre (iniciou com 7 anos), é esperado que com 18 anos ele fosse já um um bom escritor, ainda que a sua genialidade fosse um fator genético, o meio é outro fator de força enorme e que cria incentivos que forma exponencial]. (P.S. estou estudando psicologia e sobre o Fernando Pessoa na escola, então me empolguei haha)

          É exatamente aquilo que o Pessoa diz sobre o poeta ser um fingidor: "O poeta é um fingidor. / Finge tão completamente / Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente.". Djavan quando compôs 'oceano' não estava, também, apaixonado e ainda, sim, que GRANDE música de amor ele compôs. Penso que o meu forte é a minha imaginação de querer viver e sentir coisas. Desta forma eu acabo vivendo-as quando escrevo, por isso é sempre um processo muito terapêutico e de auto-descobrimento quando escrevo com o intuito de me desdobrar e achar respostas em mim. Parafraseando Rubem Alves (amo os poemas desse homem!): "Eu quero desaprender para aprender de novo. / Raspar as tintas com que me pintaram. / Desencaixotar emoções, recuperar sentidos." No final de cada texto meu há uma reflexão e um ponto crucial que quero fincar (em mim principalmente) e, no começo do texto, eu sequer sei qual serão as próximas duas linhas), mas no final a resposta parece que vem até mim, conforme eu vou emoldurando e refinando os sentimentos, por isso o ar de um texto "de alguém maior de 18 anos". rs Quando eu leio textos que escrevi há dois meses, dois quais não me lembro mais, sinto o mesmo. Não parecem que foram escritos por mim. haha

          Para terminar, não sei, com toda a franqueza, como será minha escrita daqui a uns anos.. Penso até que terei pouquíssimo tempo para isso... O que me deixa ansiosa e triste, mas o que sei, de fato, é que não vou deixar de escrever (até porque não consigo). Rabiscar o papel com o meu eu com palavras quebradas e desorganizadas, acho que será isso.

          Mas quem sabe não publico, um dia, um compilado com os poemas?.. Uma amiga minha insiste nessa ideia e eu, que sempre negava instantaneamente a ideia, exceto caso fosse para o livro ficar na estante do meu quarto (pensamento bem exclusivista haha) hoje em dia vejo de forma diferente, mais aberta e a ideia me soa mais favorável. Quem sabe...


          E sobre o Monet, sim, tinha umas pinturas dele salvas no notebook e lembrei de uma que eu e uma amiga querida amamos muito e resolvi interligá-la com o poema.

          Abraços carinhosos!!

        • Shmuel

          Um belo poema! Parabéns a nobre poeta! A escrita amadurece e segue seu próprio caminho. Nós simplesmente nos deixamos levar, com o lápis e o papel na mão! É claro que os elementos externos (cultural, amores, passeios, emocional, vivência), contribuiem muito no ato da criação.
          Abraços a querida poeta!

          • Letícia Alves

            Muito obrigada, querido Shmuel!

            É exatamente isso.

            Abraços iluminados!!

          • Sergio Neves

            SERGIO NEVES - ...oi! ...depois dessa tua toda "explanação" eu tinha que voltar... / ...menina, a tua precocidade me assusta! ...sempre deu pra perceber bem, nas linhas e, principalmente, nas entrelinhas do que aqui já publicaste, o quanto é "acima da média" -muito acima...,...mas, agora, depois do que de ti aqui me contas, me deixaste 'estupefato"! ...é uma "história" admirável essa tua pelos caminhos da arte e da intelectualidade...,...o teu olhar psíquico/filosófico sobre coisas mil (sim, esse todo contexto "artístico" por ti abarcado, é, em verdade um espelho de todo um "resto" geral...) / ...bom,...não vou ficar com mais "blás; blás, blás" por que eu sinto que ficaria aqui "conversando" por horas e o espaço aqui não comportaria...,...resumindo: ...tu és apaixonante por toda essa tua enorme sensibilidade, precoce maturidade e inteligência de se admirar... // ...mas,...vou "espichar" mais um tantinho...,...fazer umas "pontualizações": -...a Clarice Lispector quando disse "tem que escrever", podes acreditar, estavas pensando em ti... // ..."...penso até que terei pouquíssimo tempo para isso..."...,...tás doida?! ...o universo intelectual vai estar por muito te abraçando por aqui... // ...e, cá pra nós...,...aquela tua amiga tá coberta de razão...,...livros teus vão se fazer necessários...,...e a humanidade vai agradecer... /// Carinhos.

            • Letícia Alves

              Dito e feito hahaha tive pouco tempo de escrever e postar, mas hoje vou hoje responder alguns dos comentários sempre ternos que escrevestes!

              Primeiramente, muito obrigada pelo comentário sempre detalhado e concordo com tudo que foi dito, apenas não sei ao certo se esse "acima da média" é acima mesmo ou abaixo. Quando digo abaixo não é desmerecendo a minha pessoa, mas sim utilizando uma linguagem metafórica mesmo para expressar o quanto que, na verdade, às pessoas se esqueceram do que veio de baixo, das raízes, das nossas raízes. Sendo assim, prefiro estar abaixo da média, nesse sentido. Ser não-parte. Ser como as 'insignificâncias' de Manoel de Barros. E como diria o mesmo:

              "Eu queria fazer parte das árvores como os pássaros fazem.
              Eu queria fazer parte do orvalho como as pedras fazem.
              Eu só não queria significar.
              Porque significar limita a imaginação.
              E com pouca imaginação eu não poderia fazer parte de uma árvore.
              Como os pássaros fazem.
              Então a razão me falou: o homem não pode fazer parte do orvalho como as pedras fazem.
              Porque o homem não se transfigura senão pelas palavras.
              E isso era mesmo."

              Acho que isso diz tudo e muito mais do que eu poderia tentar dizer.
              É EXATAMENTE isso.

              Abraços muito calorosos, querido!

              Espero que tenha uma boa semana!



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