Um ninho vazio

Altofe

 

Um ninho vazio

 

 

Num domingo de maio

nublado e sombrio,

aquela dama idosa

aguarda esperançosa

de alguma lembrança

de visita ou flores,

que tragam os seus amores,

enchendo de cores

o seu ninho vazio.

 

Desde a maternidade

nem tudo é saudade

do que já existiu,

depois de tanta luta,

esforço e labuta,

um “obrigado” jamais ouviu.

 

Noites em claro,

nunca se entregou,

entre tosses e febre,

com a saúde dos filhos

também se preocupou,

pedindo a Deus que olhe

pela felicidade da prole

ela sempre rezou.

 

E em cada momento

de conquista ou sofrimento,

aquela mulher lutadora e corajosa

deu a vida por seu ninho,

 vivendo pelos filhos orgulhosa,

amor igual nunca existiu,

e hoje espera migalhas de carinho

no fundo de seu ninho vazio.

 

Ela recorda o tempo

de um  ninho  completo,

com vozes, crianças, doces, brinquedos,

 música de festa, dias de sonho repleto,

alegria igual jamais se viu,

agora sozinha chora baixinho

no quarto deserto do ninho vazio.

 

Aquela mulher

de bondoso coração

que na infância te esperava

na saída da escola

só pra te escutar

 com toda a atenção,

 sempre te entendia,

te defendendo

não te julgava,

 e por ti torcia

sua missão foi te amar,

hoje, esquecida no leito,

sente um vazio no peito

e uma vontade de abraçar,

preocupada e aflita,

ainda espera alguma cria

por aquela porta entrar.

 

A velha senhora,

a qualquer hora,

olha pela janela

desde quando partiu,

paciente ainda te espera

em seu ninho vazio.

 

Neste Dia das Mães

só queria o seu guri de presente

para dar-lhe todo amor que sente

e dizer que não se arrepende

da vida sofrida que levou,

seus sonhos foram os filhos,

presente da vida,

a quem se dedicou.

 

Agora, presa nesse débil corpo,

que teima em sentir frio,

solitária, a Mãe carinhosa

resiste ao tempo, já idosa,

em seu ninho vazio.

 

 

  • Autor: Altofe (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 13 de maio de 2023 23:53
  • Comentário do autor sobre o poema: Certa vez fiquei chocado ao assistir a um documentário que mostrava uma espécie de polvo em que as fêmeas não abandonam seus ovos (cerca de 160) após a postura para protegê-los de inúmeros predadores durante a longa gestação, que incrivelmente dura quatro anos e meio, e em todo esse tempo a mãe polvo não se alimenta e vai definhando vindo a morrer logo após os ovos eclodirem e nascerem os miúdos filhotinhos. Este poema é uma singela homenagem que presto a todas as mães que também doam suas vidas e se sacrificam de alguma forma por seus filhos. Acredito que assim como a mamãe polvo para amarem tanto seus filhos nossas mães também devem possuir três corações, a minha parecia ter, apesar que quando eu e meus irmãozinhos fazíamos pedidos ao mesmo tempo ela nos perguntava "_Vocês acham que sou igual a um polvo que tem oito braços?". Com profundo respeito e dívida que tenho, saúdo às incríveis mulheres que abraçaram essa divina missão, muitas vezes sem receber o reconhecimento que merecem.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 26
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Comentários2

  • Lia Graccho Dutra

    Boa tarde, poeta Altofe!

    Muito lindo o seu poema,
    também muito triste.
    Porque os seus versos
    retratam a situação real
    de muitas mães
    que ficam
    esquecidas e sós ,
    não somente
    no Dia da Mãe ,
    mas quando começa
    a terceira idade…

    Um abraço,
    Lia

    • Altofe

      Obrigado por sua leitura, estimada poeta, você nem imagina quantas vezes já vi essa história se repetir. Na cultura de alguns países até é normal, mas aqui quando acontece nos choca e entristece. Abs.

    • João Jorge o Poeta Sorridente

      Grandiosa Maravilha Maravilhada, em homenagem ao Ser mais Maravilhoso do mundo: - !
      M. O. GARANDE POETA ALTOFE
      E GRANDE ABRAÇO!

      • Altofe

        Muito obrigado por sua prestigiosa visita, caríssimo poeta. Abs.



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