Um ninho vazio
Num domingo de maio
nublado e sombrio,
aquela dama idosa
aguarda esperançosa
de alguma lembrança
de visita ou flores,
que tragam os seus amores,
enchendo de cores
o seu ninho vazio.
Desde a maternidade
nem tudo é saudade
do que já existiu,
depois de tanta luta,
esforço e labuta,
um “obrigado” jamais ouviu.
Noites em claro,
nunca se entregou,
entre tosses e febre,
com a saúde dos filhos
também se preocupou,
pedindo a Deus que olhe
pela felicidade da prole
ela sempre rezou.
E em cada momento
de conquista ou sofrimento,
aquela mulher lutadora e corajosa
deu a vida por seu ninho,
vivendo pelos filhos orgulhosa,
amor igual nunca existiu,
e hoje espera migalhas de carinho
no fundo de seu ninho vazio.
Ela recorda o tempo
de um ninho completo,
com vozes, crianças, doces, brinquedos,
música de festa, dias de sonho repleto,
alegria igual jamais se viu,
agora sozinha chora baixinho
no quarto deserto do ninho vazio.
Aquela mulher
de bondoso coração
que na infância te esperava
na saída da escola
só pra te escutar
com toda a atenção,
sempre te entendia,
te defendendo
não te julgava,
e por ti torcia
sua missão foi te amar,
hoje, esquecida no leito,
sente um vazio no peito
e uma vontade de abraçar,
preocupada e aflita,
ainda espera alguma cria
por aquela porta entrar.
A velha senhora,
a qualquer hora,
olha pela janela
desde quando partiu,
paciente ainda te espera
em seu ninho vazio.
Neste Dia das Mães
só queria o seu guri de presente
para dar-lhe todo amor que sente
e dizer que não se arrepende
da vida sofrida que levou,
seus sonhos foram os filhos,
presente da vida,
a quem se dedicou.
Agora, presa nesse débil corpo,
que teima em sentir frio,
solitária, a Mãe carinhosa
resiste ao tempo, já idosa,
em seu ninho vazio.