joaquim cesario de mello

NEVERLAND

 

Vivo no relógio do meu pai
onde o tempo não passa
com suas horas apressadas
nem os ponteiros assinalam
o virar consumido dos dias

Nele brinco de criança sem cansar
como se vivesse numa Terra do Nunca
em que meu imortal menino
escapou de ser adulto amanhã

No relógio do meu pai
não coabitam vindouros
esses lugares em que o amanhecer
e o aclarar das noites
são sempre impregnados de ontem

No interior do relógio do meu pai
não se contam os minutos
não existem cemitérios
as roupas não crescem
e todos meus primos estavam lá

No Mido do meu pai
o Universo não era digital
e se movia redondo e animado
que nem um pião alegre e brejeiro
puxado e liberto das suas cordas

Naquele relógio do meu pai
minha infância corria entre os números
que iam de um a doze
com a rapidez dos milênios
enquanto o eterno e o imutável
eram simplesmente infindáveis


O relógio do meu pai
parou no dia em que ele morreu

 

  • Autor: joaquim cesario de mello (Offline Offline)
  • Publicado: 20 de Março de 2023 16:12
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 24

Comentários3

  • CORASSIS

    Brilhante !
    Linda homenagem amigo .
    Abraço .

  • Shmuel

    Realmente um belo texto poético!
    Parabéns!

  • Drica

    "O relógio do meu pai
    parou no dia em que ele morreu"
    Gostei!



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