Pingo de Chuva

Letícia Alves

Cai um pingo de chuva,
Cai uma palavra no papel
e se desenforma,
criando forma.

Não recordo das pequenas coisas intrínsecas.
Por que o tempo passa sem passar?
Dentro de mim cai aquele pingo de chuva.

Outro pingo cai, mas esse voa com o vento.
Alento. Voa desfeito como o meu eu frágil e permeável.
Se até o pingo de chuva quando cai do céu
voa em direção ao inesperado, voarei eu também.

Meu voo ficará registrado no papel.
Entre turbulências ásperas e plenitudes cobertas por nuvens.
Já que não me restam tantas reminiscências na memória, escrevo.
Embeveço na poça que o pingo de chuva criou.

A alma e a memória dormem,
mas resplandecem em artifícios de memórias vivas,
quase que autênticas, quando escrevo.

Escrever até que
a última gota
se desfaça
por completo.

  • Autor: Hyun (em coreano significa: iluminado/inteligente) (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 17 de fevereiro de 2023 18:14
  • Comentário do autor sobre o poema: Esse poema descreve de forma ampla e serena como me sinto em relação à escrita-viva; a necessidade de escrever mesmo quando "está chovendo", registrando nos voos da vida sofrimentos e alegrias efêmeras.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 10


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