Manoela

Intensidade

Só quem mergulha fundo
Corre o risco de se afogar
Mas não me peça pra ficar no raso
Pois nele não cabe
Essa minha imensidão

 

Só entro no mar
Se puder encharcar os cabelos
Saio só quando tenho murchos os dedos
E os olhos vermelhos
De quem parece chorar


Ando mesmo descalça
Gosto de sentir as texturas
Não me importo se me causem fissuras
Ou se possa escaldar-me os pés

 

Para mim seria verdadeira tortura
Manter tanta intensidade em clausura
Ficar alheia
A qualquer emoção


É que eu já nasci assim
com a alma bem cheia
Prefiro muito de pouco a pouco de tudo
O que posso fazer?
Essa sou eu


Quando dá errado
Tudo transborda e vira poesia
Anestesia o corpo
e me reinicia
Fazendo-me esquecer que o tombo doeu

  • Autor: Manoela (Offline Offline)
  • Publicado: 4 de Junho de 2020 07:57
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 397

Comentários4

  • RafaelSP

    Você escreve muito bem Manoela. Tem um estilo tocante com o qual muito me identifico. Este poema principalmente. Parabéns, e obrigado.

  • Samuel SanCastro

    Maravilhoso como tudo, seu que tenho visto por aqui. Obrigado por nos brindar com a sua arte.
    “Quando dá errado
    Tudo transborda e vira poesia
    Anestesia o corpo
    e me reinicia
    Fazendo-me esquecer que o tombo doeu”
    Tocante!

  • Nelson de Medeiros

    Como sempre lhe digo, poeta. És excelente. Perfeita no versar e convincente.

    1 ab

  • Crica Marques

    Texto belíssimo. Às vezes é um risco mergulhar no raso, mas vida sem intensidade é como flor sem perfume. Bjs



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