Só quem mergulha fundo
Corre o risco de se afogar
Mas não me peça pra ficar no raso
Pois nele não cabe
Essa minha imensidão
Só entro no mar
Se puder encharcar os cabelos
Saio só quando tenho murchos os dedos
E os olhos vermelhos
De quem parece chorar
Ando mesmo descalça
Gosto de sentir as texturas
Não me importo se me causem fissuras
Ou se possa escaldar-me os pés
Para mim seria verdadeira tortura
Manter tanta intensidade em clausura
Ficar alheia
A qualquer emoção
É que eu já nasci assim
com a alma bem cheia
Prefiro muito de pouco a pouco de tudo
O que posso fazer?
Essa sou eu
Quando dá errado
Tudo transborda e vira poesia
Anestesia o corpo
e me reinicia
Fazendo-me esquecer que o tombo doeu