Sobre o dorso do pago sulino
Um menino de lenço vermelho
Campereando sonhos de garoto
No seu potro parecendo espelho
Leva a saga do sangue farrapo
Índio guapo lutando de joelhos
Na charla das lindas percantas
Na garganta o lenço vermelho
Um guri galopeado sem mágoa
Como a água que cai da cascata
Seu destino é um grande tesouro
Vale o ouro das plagas de prata
É juventude encantando na lida
Seiva da vida no ventre da mata
La nos galhos sacode a pitanga
Cai na sanga descendo a cascata
A fazenda virou um bang bang
Já tem sangue novo no campo
O menino é um ginete montado
No seu renomado cavalo branco
O pôr do sol deixando seu rastro
Lá no pasto pisca um pirilampo
Surge a lua prateando o palanque
Pois tem sangue novo no campo
No despacito igualzito ao seu pai
Gaúcho sagaz de cinchado sulino
Lá em seu rancho sede da fazenda
Tem a prenda mãe do seu destino
Que tempera um arroz carreteiro
Com verdadeiro charque bovino
Sangue novo volta para estância
Há esperança no gáudio menino
- Autor: Arlindo Nogueira (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 11 de fevereiro de 2022 15:41
- Comentário do autor sobre o poema: Escrevi a Poesia “Gaúdio Menino”, com objetivo de falar da minha terra de origem e dedicar às áreas pastorais do sul do Brasil, Argentina e Uruguai. Embora a expressão “gaúdio” (gaúcho), muito usado no Sul do Brasil, não há certeza absoluta sobre a origem da palavra gaúcho. A teoria mais aceita é que o termo tenha origem no quéchua (família de línguas originária dos Andes centrais) "huachu", que significa órfão. Os colonizadores espanhóis adulteraram o termo, passando a se referir aos órfãos como "guachos". Há ainda a hipótese de que os crioulos e mestiços começaram a converter o termo "chaucho" para gaúcho, palavra introduzida pelos espanhóis como versão do vocábulo "chaouch" palavra que em árabe significa pastor de animais. Porém, no sul do Brasil os termos mais comuns são "gaudério" ou "gaúcho". Assim, os gaúchos construíram uma linguagem regional muito rica, cito na minha poesia alguns nomes que estão no dicionário “gauchês”. Exemplos: pago = lugar; saga = lenda ou aventura; farrapo = da República Farroupilha; charla = conversa à toa; percanta = mulher mal agradecida; plagas = região; bang bang = objeto, pessoa, animal; ginete = cavaleiro bom; pasto = lugar de pastagem; palanque = estaca que sustenta a cerca de arame; despacito = devagar; igualzito = igual; cinchado = apertar com cincho; prenda = chinoca – mulher; charque = carne seca; estância = fazenda; arroz carreteiro = é feito em panela de ferro uma mistura de guisado de carne de sol com arroz. Diante disso tudo, espero nesse poema passar um pouco da cultura gaúcha a todos.
- Categoria: Não classificado
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Comentários3
Adorei o cavalo e o poema. Assim que o li imaginei que o autor fosse gaúcho.
Desejo uma excelente tarde.
Obrigado Leide pelo carinho e por gostar da tradição gaúcha. Você é uma poetisa que encanta em suas poesias, pelo domínio do que é subjetivo, como no poema "Espera", quando disse: "me procure no portão, dos lugares mágicos". Parabéns!
Fantástico poema de resgate do linguajar pampeano, me remeteu aos tempos de guri quando meu avô era patrão e meu tio capataz de CTG e eu ficava encantado com as declamações apresentadas no galpão (que o que pouca gente de outros pagos sabe é que a trova e declamação poética são patrimônios culturais do tradicionalismo gauchesco). Obrigado por nos trazer esse presente. Abs.
Obrigado José pelas palavras, foste "guri" de CTG como eu. Foram tempos e acontecimentos que jamais esqueceremos. Um forte quebra costela pra você.
Uma poesia que encanta, e nos fazem dá um passeio na infância deste Guri dos Pampas... Obrigada pela partilha poeta Arlindo Nogueira.
Obrigado pelo carinho ND e pelo seu tempo dedicado ao universo poético, já que és professora. Você refere isso em seu Poema "Meu Tempo", quando diz: "repetindo no silêncio lento, as horas, os minutos, os segundos e o tempo". Parabéns!
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