Nelson de Medeiros

SONHO LOUCO



SONHO LOUCO

 

Às vezes  vivo um sonho louco,

Um sonho que me invade pouco a pouco,

Levando minha alma a viajar...

Eu me vejo andando entre vielas,

Sob parca luz  de toscas velas,

Em passo certo com destino a algum lugar...

 

Meu costume é um verde aveludado,

Por sobre alva camisa de brocado,

E negras botas que me dão austeridade...

No porte eu carrego um ar de nobreza,

E, n!Alma uma sólida certeza,

De que vivo intensa realidade...

 

Em volta, o estilo barroco das construções

Não me causam espanto. Nem mesmo as emanações

Que pairam no ar me causam medo...

Há um que de mistério envolvendo a noite enluarada...

Uma vaga intuição, muito velada,

Lembra trama de inolvidável enredo...

 

Se me depara um casarão de porte austero...

Meu peito se agita... Os passos acelero,

Qual me buscassem sombras num levante...

Mas sei que preciso seguir... Ir em frente...

É imprescindível e necessário que eu tente.

E sigo confiante...

 

Entro... Em meio à esplendorosa realeza,

Ao som de uma valsa de rara beleza,

Pares engalanados rodopiam alegremente...

Sei que faço parte daquela sociedade,

Que canta que dança e ri numa irmandade...

Mas eu não paro... Quero seguir somente...

 

A escadaria, além, é trabalhada,

Lustrosa, em linda forma entalhada...

Subo... Sei que lá é o meu destino...

Paro ante a porta majestosa e me ufano,

Pois sei que vou desvendar este arcano!

Mas sempre acordo, repentino...

 

E volto à realidade do presente,

Trazendo  n!Alma ainda rente

Uma impressão deveras singular!

E, olhar distante, perdido na imensidão,

Indago aos céus em forma de oração:

Onde eu vivi esta cena secular?

  • Autor: Nelson de Medeiros (Offline Offline)
  • Publicado: 24 de Maio de 2020 09:11
  • Comentário do autor sobre o poema: Durante algum tempo tive este sonho repetidamente nos mínimos detalhes, em seguidas noites. Até que uma madrugada levantei e o descrevi da forma que pude.\r\nNunca mais o tive e isto me intriga até hoje, passados que são tantos anos...
  • Categoria: Fantástico
  • Visualizações: 40

Comentários3

  • Chico Lino

    Caríssimo Nelson de Medeiros, interessante a narrativa desse seu sonho recorrente. As correntes que acreditam em reencarnações, têm no seu belo poema, forto material de trabalho.
    Sempre que eu entrava em estado febril, tinha a sensação de estar em um rio, sobre um banco de areia, que rodopiava velozmente. Já adulto, um dia passei a mão sobre os cabelos da minha perna sem encostar na pele, fui remetido à sensação de estar naquele banco de areia; essa sensação, trouxe a lembrança de um dia haver ficado com muita febre e nos braços de meu pai, fui levado às pressas ao médico. Os pelos da minha perna, eram os cabelos do peito de meu pai. Nunca mais, mesmo com febre, me senti naquele banco de areia. Como se eu houvesse me curado daquele sentimento recorrente.

    • Nelson de Medeiros

      Pois é poeta. Tem coisas que acontecem que so uma outra vida poderá esclarecer.

      1 ab

      • Chico Lino

        Torço para que exista... "...Extra, resta uma ilusão..." (Gilberto Gil)

      • Maria Lucia

        Emoção. Arrepio pela pele. Entrei de cabeça no seu sonho na segunda leitura. Subi a escadaria contigo. E frente aquela porta, que você não abriu, abri eu : alguém te esperava , pra descer acompanhada, para a festa que ali se realizava. Ai, ai ai ...Perdoa-me Nelson, por invadir teu sonho, mas vc bem sabe quem escreve, tem uma imaginação super fértil kkkkk. Mil parabéns por essa obra poética de fôlego! Adorei. Abraços ...

        • Nelson de Medeiros

          De fato. O poeta nasce com esta prerrogativa. A de sonhar e mergulhar nos meandros da vida eteerna.

          Obrigado

          1 ab

        • Maria Vanda Medeiros de Araujo

          Paranbens Nelson. Seu poema faz viajar....



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