Nelson de Medeiros

SONHO LOUCO

SONHO LOUCO

 

Às vezes  vivo um sonho louco,

Um sonho que me invade pouco a pouco,

Levando minha alma a viajar...

Eu me vejo andando entre vielas,

Sob parca luz  de toscas velas,

Em passo certo com destino a algum lugar...

 

Meu costume é um verde aveludado,

Por sobre alva camisa de brocado,

E negras botas que me dão austeridade...

No porte eu carrego um ar de nobreza,

E, n!Alma uma sólida certeza,

De que vivo intensa realidade...

 

Em volta, o estilo barroco das construções

Não me causam espanto. Nem mesmo as emanações

Que pairam no ar me causam medo...

Há um que de mistério envolvendo a noite enluarada...

Uma vaga intuição, muito velada,

Lembra trama de inolvidável enredo...

 

Se me depara um casarão de porte austero...

Meu peito se agita... Os passos acelero,

Qual me buscassem sombras num levante...

Mas sei que preciso seguir... Ir em frente...

É imprescindível e necessário que eu tente.

E sigo confiante...

 

Entro... Em meio à esplendorosa realeza,

Ao som de uma valsa de rara beleza,

Pares engalanados rodopiam alegremente...

Sei que faço parte daquela sociedade,

Que canta que dança e ri numa irmandade...

Mas eu não paro... Quero seguir somente...

 

A escadaria, além, é trabalhada,

Lustrosa, em linda forma entalhada...

Subo... Sei que lá é o meu destino...

Paro ante a porta majestosa e me ufano,

Pois sei que vou desvendar este arcano!

Mas sempre acordo, repentino...

 

E volto à realidade do presente,

Trazendo  n!Alma ainda rente

Uma impressão deveras singular!

E, olhar distante, perdido na imensidão,

Indago aos céus em forma de oração:

Onde eu vivi esta cena secular?