A metafísica da liberdade
Odeio a moral, odeio a ética, odeio-as infinitamente;
Acorrentam-me em nome da verdade e me amargam o perfume para eu não amar demais;
E eu que não hei de amar nada mais impossivelmente que o amor possível;
Eu que me guio pelo cheiro doce da incerteza da vida;
Eu que me esfrio a alma queimando-me em paixões violentas.
Então deixa-me queimar o corpo, pois sem o fogo da paixão ridícula não somos nada;
Somos lenha, e acorrentados à verdade nos temos molhados;
Então quebremos a corrente da verdade e da razão;
E queimemo-nos no prazer ilógico, pois não há logica maior senão quando se tem a falta dela;
E dancemos enfim numa melodia hedonista assim como geme violento o teu perfume suave;
E arderemos a lenha, tal como grita grave no arder do fogo a brasa.
Há de beijar quem desejas enquanto há tempo!
Pois não há metafísica maior que o beijo;
E sinta então os lábios efervescentes,
Molhe a língua e tanja os dentes;
Arrepies o corpo, enquanto ainda vives!
Pois logo estaremos mortos;
Mais infinitamente mortos do que calculas.
Então grite oque quer, clame oque desejar;
Conquiste oque mereces;
E mais ainda oque não mereces;
E se não gritastes alto o suficiente da primeira vez, grite de novo, e de novo e de novo;
E se não te arrepiastes todo o corpo em teu beijo incerto;
Beije de novo, e olhe no fundo dos olhos de quem tu encontra os lábios;
Mais uma vez...
Mais uma vez enquanto há tempo...
E abrace forte quem tu amas como se abraçasses a ti mesmo;
E sinta os lábios molhados pelo menos mais uma vez;
Sem arrependimentos, pois o único arrependimento que deves ter é o de não teres molhado-los antes;
E, por fim, sorria tola de vergonha avermelhada e doce como o âmbar do meu perfume que se esvai enquanto escrevo esses versos.
Carpe diem!
Fruor vita em réquiem!
É oque a tua liberdade grita em clama;
Escrita em linguagem irrestrita no flambar da tua flama.
- Autor: Artur Curadete (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 23 de agosto de 2021 23:25
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 15
- Usuários favoritos deste poema: vic andrade
Comentários3
Prezado Artur Curadete, o espírito do Álvaro de Campos permeia todo o seu excelente poema. E me fez lembrar o Esteves, carente de metafísica, ao avistá- lo na janela pela rua da Tabacaria.
Um primor de poema.
Um abração.
É uma honra receber tamanho elogio de um poeta experiente como o senhor, muito obrigado por ter lido com carinho. Abraços!
Destacando :
"E se não te arrepiastes todo o corpo em teu beijo incerto;
Beije de novo, e olhe no fundo dos olhos de quem tu encontra os lábios;
Mais uma vez...
Mais uma vez enquanto há tempo...
E abrace forte quem tu amas como se abraçasses a ti mesmo;
E sinta os lábios molhados pelo menos mais uma vez; "
É que, sendo intensa demais, penso que tudo deve ser vivido com intensidade, seja uma paixão, um amor dividido e até as amizades.
Foi muito bom ler-te!
Meu abraço!
Gratificante ver minha poesia sendo lida com atenção, obrigado pelo comentário. Grande abraço!
Artur, este poema me levou à sua página, gostei de tudo. O seu texto tem grande força, elegância e harmonia naturais, é enriquecido pelo potuguês correto, pela pontuação bem colocada, pela escolha do vocabulário. Imagino que você seja ainda jovem, e que ombreará certamente com os poetas que admira. Sucesso!
Cecilia, muito obrigado pelos elogios! Vim revisitar a página depois de meses e abri um sorriso lendo seu comentário gentil. E nada como agradecer uma leitura com outra leitura, fui visitar alguns textos da senhora e também me encantei, são tão autênticos, transmitem sensações nostálgicas de coisas que nem vivi, maravilhoso. E sim sou bem jovem haha, tenho só 18 anos
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.