Artur Curadete

A metafĂ­sica da liberdade

A metafísica da liberdade

 

Odeio a moral, odeio a ética, odeio-as infinitamente;

Acorrentam-me em nome da verdade e me amargam o perfume para eu não amar demais;

E eu que não hei de amar nada mais impossivelmente que o amor possível;

Eu que me guio pelo cheiro doce da incerteza da vida;

Eu que me esfrio a alma queimando-me em paixões violentas.

 

Então deixa-me queimar o corpo, pois sem o fogo da paixão ridícula não somos nada;

Somos lenha, e acorrentados à verdade nos temos molhados;

Então quebremos a corrente da verdade e da razão;

E queimemo-nos no prazer ilógico, pois não há logica maior senão quando se tem a falta dela;

E dancemos enfim numa melodia hedonista assim como geme violento o teu perfume suave;

E arderemos a lenha, tal como grita grave no arder do fogo a brasa.

 

Há de beijar quem desejas enquanto há tempo!

Pois não há metafísica maior que o beijo;

E sinta então os lábios efervescentes,

Molhe a língua e tanja os dentes;

Arrepies o corpo, enquanto ainda vives!

Pois logo estaremos mortos;

Mais infinitamente mortos do que calculas.

 

Então grite oque quer, clame oque desejar;

Conquiste oque mereces;

E mais ainda oque não mereces;

E se não gritastes alto o suficiente da primeira vez, grite de novo, e de novo e de novo;

E se não te arrepiastes todo o corpo em teu beijo incerto;

Beije de novo, e olhe no fundo dos olhos de quem tu encontra os lábios;

Mais uma vez...

Mais uma vez enquanto há tempo...

E abrace forte quem tu amas como se abraçasses a ti mesmo;

E sinta os lábios molhados pelo menos mais uma vez;

Sem arrependimentos, pois o único arrependimento que deves ter é o de não teres molhado-los antes;

E, por fim, sorria tola de vergonha avermelhada e doce como o âmbar do meu perfume que se esvai enquanto escrevo esses versos.

 

Carpe diem!

Fruor vita em réquiem!

É oque a tua liberdade grita em clama;

Escrita em linguagem irrestrita no flambar da tua flama.