A metafísica da liberdade
Odeio a moral, odeio a ética, odeio-as infinitamente;
Acorrentam-me em nome da verdade e me amargam o perfume para eu não amar demais;
E eu que não hei de amar nada mais impossivelmente que o amor possível;
Eu que me guio pelo cheiro doce da incerteza da vida;
Eu que me esfrio a alma queimando-me em paixões violentas.
Então deixa-me queimar o corpo, pois sem o fogo da paixão ridícula não somos nada;
Somos lenha, e acorrentados à verdade nos temos molhados;
Então quebremos a corrente da verdade e da razão;
E queimemo-nos no prazer ilógico, pois não há logica maior senão quando se tem a falta dela;
E dancemos enfim numa melodia hedonista assim como geme violento o teu perfume suave;
E arderemos a lenha, tal como grita grave no arder do fogo a brasa.
Há de beijar quem desejas enquanto há tempo!
Pois não há metafísica maior que o beijo;
E sinta então os lábios efervescentes,
Molhe a língua e tanja os dentes;
Arrepies o corpo, enquanto ainda vives!
Pois logo estaremos mortos;
Mais infinitamente mortos do que calculas.
Então grite oque quer, clame oque desejar;
Conquiste oque mereces;
E mais ainda oque não mereces;
E se não gritastes alto o suficiente da primeira vez, grite de novo, e de novo e de novo;
E se não te arrepiastes todo o corpo em teu beijo incerto;
Beije de novo, e olhe no fundo dos olhos de quem tu encontra os lábios;
Mais uma vez...
Mais uma vez enquanto há tempo...
E abrace forte quem tu amas como se abraçasses a ti mesmo;
E sinta os lábios molhados pelo menos mais uma vez;
Sem arrependimentos, pois o único arrependimento que deves ter é o de não teres molhado-los antes;
E, por fim, sorria tola de vergonha avermelhada e doce como o âmbar do meu perfume que se esvai enquanto escrevo esses versos.
Carpe diem!
Fruor vita em réquiem!
É oque a tua liberdade grita em clama;
Escrita em linguagem irrestrita no flambar da tua flama.