Pedro Trajano de Araujo

Meus Pais

O retirante chegara em terra nova

Deixou para atrás pai, irmãos, amigos

Veio do Nordeste para o Sudeste

Saiu de Pernambuco chegou em São Paulo

Da caatinga para os campos de café

É de tirar o chapéu para esse homem

Cruzou o país em transporte pau-de-arara

Estrada empoeirada de chão

Chegou aqui, vindo do sertão.

 

Barriga verde e outros pejorativos

Assim apelidavam velhos e meninos

Não é coisa de agora, é de outrora

O preconceito contra os nordestinos.

 

Mas meu pai seguiu em frente

Com trabalho mostrou para tantos

Que são brasileiros dignos de respeito

Quem vem distante de outros cantos

Aqui ele seguiu a sua vida sem medo

Provou seu valor com o suor do rosto

Fé em Deus e mãos à obra

Viver em paz era o seu desejo

A maior das motivações desse sertanejo.

 

Domingos Trajano de Araujo

Filho legítimo do Nordeste

Conheceu Maria Laurentino Timóteo

Tímida camponesa, um raio de beleza

Ele se encantou pela menina do campo

Levou quatro meses para conquista-la

E depois de cento e vinte dias de namoro

O caboclo apaixonado decidiu

Que já era tempo de viver a dois

 Queria logo a amada do seu lado.

Bom de lábia convenceu a pretendente

O melhor para eles era se unir urgente

No dia e horário pré combinado

Estava Maria de mala arrumada

Fugiram no lombo do cavalo Ajato

No longínquo ano de sessenta e quatro

 

Desta união nove filhos vieram ao mundo

No dia em que o primeiro filho foi batizado

Também aconteceu o casamento dos dois

Diante da igreja, matrimônio oficializado.

De todos os filhos que o casal concebeu

Dois, Deus levou para Si ainda meninos.

 

Os recursos sempre foram poucos

Era preciso o sustento das crianças buscar

De madrugada meu pai já estava no curral

Muitas vacas de leite para ordenhar

A fim de dois litros de leite para casa levar.

E a jornada com a esposa continuava o dia todo

De sol a sol enxada amolada e suor no rosto.

 

Na vida dele o álcool esteve presente por anos

Minha mãe mulher de fé e esperança

Nunca desistiu de ver seu esposo livre do vicio

Joelho no chão, fé em Deus e muita oração

Ela ajudou o marido a conseguir a libertação.

 

Crescemos com muita escassez

Mas hoje sei que o essencial nunca foi negado

Nos tornamos homens e mulheres honrados

Isso devemos aos nossos pais, pessoas simples

Que foram capazes de instruir seus filhos

Sem nunca ter sido alfabetizados

Pois na escola da vida são professores

Com bagagem para instruir doutores.

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Por: Pedro Trajano de Araujo (filho e poeta)

24 de abril 2021

Penápolis SP

  • Autor: Trajano (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 25 de Abril de 2021 09:28
  • Comentário do autor sobre o poema: Em setembro deste ano a união conjugal de meus pais completará cinquenta e sete anos. Lá se vão quase seis décadas. Exemplo e orgulho para mim e acredito que para os meus irmãos também.
  • Categoria: Família
  • Visualizações: 8

Comentários3

  • Shmuel

    Poeta, que trajetória linda, foi a do seus pais. Muito parecida com a história de vida, dos meus pais também. Muito bom, me vi em sua narrativa poetica.
    Abraços,

    • Pedro Trajano de Araujo

      Historias parecidas de muitos.

      Obrigado pela leitura amigo poeta

    • Cecilia

      História linda, muito bem contada! Abraço.

    • CORASSIS

      Meus pais também foram de Pernambuco para São Paulo, e eu fiz o inverso, nasci em São Paulo , e vim para Pernambuco, por uma qualidade de vida , não encontrei a ainda !
      Belo historia , parabéns poeta.



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