cimeries

Rasga Mortalha

Rasga Mortalha, rasgue a mortalha para mim:

quando o último maço acabar,

quando a última gota beber,

quando a velha bossa tocar,

quando o velho à minha porta bater.

 

Que Suindara, que carrega o choro

se engrace por mim em sua idade;

que a foice negra do tarô, mau agouro

se mostre breve, piedosa austeridade.

 

Rasga Mortalha, rasgue a mortalha para mim:

quando em meu coração juventude pulsar,

quando o lítio parar de agir,

quando meu calendário acabar,

quando em mim a palavra fugir.

               

Que a ave branca, que chia o findar

se acomode essa noite em minha sacada;

branco véu, doce grito

amado veneno, zelosa facada.

  • Autor: cimeries (Offline Offline)
  • Publicado: 9 de Janeiro de 2021 00:06
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 11

Comentários2

  • Dis Brito

    Muito bom! Lembrou-se os poemas de Álvares de Azevedo. Versos Carregados de noite.

    • cimeries

      Obrigado, é um baita incentivo!

    • Ema Machado

      Forte e profundo... Bela obra! Parabéns, menino!



    Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.