Lembro-me da festa.
Era como um sonho
Que me embalava.
Hoje, 8 de dezembro, 2020,
30 anos depois,
Os versos que componho
São estrelas cintilantes ,
De um passado rutilante,
Que guardo
Como doce recordação!...
E vejo redivivos
Em minha memória :
Moças e rapazes bonitos
Trajados a rigor,
Graciosamente desfilando
Pelo salão
Ricamente adornado.
A dança.
Os pares entrelaçados...
Sorrisos às faces,
Alegria contagiante,
Promessas amorosas acalentadas
Nas mentes dos jovens
Que mesmo ali presentes
Estavam longe
Com o pensamento a voar
Qual pássaro livre, na amplidão,
Inebriados pelo rítmo melodioso
Da canção
Que a orquestra tocava.
II
No embalo em que estávamos,
Nem demos conta
Que já era alta madrugada.
A festa mais animada
Dava o tom
De euforia,
Casais furtivamente
Afastavam-se a fim
De trocarem beijos
E carícias recatadamente
No belíssimo jardim
Da mansão
Dos Patiole, sem que olhos
Abelhudos os pudessem ver,
E da falta de decoro reclamar.
Tímido, eu, Juclito, espiava,
A bela que dançava,
Embalada ao som
Da música dos Fevers.
Que timidez a minha -- pensava.
Ela estava ali, tão perto,
Ao mesmo tempo
Tão distante,
Pois o acanhamento
Que eu tinha,
Punha-me a perder.
Queria tanto, ensejava,
Arduamente desejava
Com a linda dançar-- refletia,
Olhos deslumbrados,
Fitos na angelical criatura,
Coração em festa!
Que encanto de mulher!
Que formosura! --
A mim nesmo dizia,
Voz embargada,
Presa a fala,
Cabeça rodopiante,
Dando voltas no salão,
Coração palpitando intensamente:
Será que ela aceita
Comigo dançar?
Aceitará, na próxima canção?
Não sei se devo...
Não me atrevo.
Não quero importotuná-la.
Ela não vai aceitar.
III
De repente, qual perversa troça
Do destino, rompeu-se em mim,
O dique da esperança:
Chorei, ao ver,
Que da diva requestada,
Aproximou-se rapaz
Elegante e vistoso,
Tirando-a pra dançar.
De ciúmes, eu me atormentava,
Pensando tristemente:
Que momento desditoso,
Ver juntinhos, os dois,
Sorrisos estampados
Nas faces que luziam.
Meus olhos,
Infelizes abrolhos
Em ilha deserta,
Que tristeza refletiam,
Me diziam
Para ir-me embora da festa.
Aqui não é meu lugar.
Pensando assim,
Fui me retirando de mansinho...
Quando inesperadamente
Vi surgir, como se fora um sonho,
O objeto do meu enlevo,
O anjo loiro que arrebatou
Meu coração.
-- Lindo, não te vás.
Dá-me a honra
Da próxima dança.
Soraia é meu nome.
Este com quem dançava,
Com quem animadamente
Conversava,
É Cícero, meu irmão --
Disse, a título de apresentação,
E prosseguiu,
Em meio a deslumbrante
Sorriso que nos lábios bailava:
-- Era meu desejo,
Que me tirasse pra dançar.
Como não o fizeste,
Eu mesma, tomei a mim,
A iniciativa de convidá-lo:
-- Vem, a noite agora é nossa!
Comentários5
Que bom! Um final feliz que até hoje embala teus sonhos. Viva a mulher que toma iniciativa!
Sim, um final feliz! Soraia foi, e ainda é,inesquecível em minha vida. Uma doce recordação que guardo com muito carinho no coração!
Obrigado, Maria dorta, pelo incentivo!
Graças a Deus, ainda há mulheres que tomam a iniciativa em questão de amor !
Forte abraço.
Boa tarde!
Viajei em tua poesia, visualizei a sua decepção e depois sua alegria.
Abraços ao poeta,
Soraia, que saudade!É o poeta, a lembrança e o tempo conjugando um elevado passado , que teima em estar presente!
Obrigado, Shimul, pela visita ao meu poema.
Abraço.
Boa tarde!
Linda história em um poema.
A timidez nem sempre é um problema. E que bom que nesse caso não foi.
abraço
Me vi em tudo aí, exceto na disposição de tirar pra dançar. Meu Deus , nunca fazia isso ! Não era vergonha. É que até hoje não sei dançar e pra ir com quem me convidasse tinha que estar com umas birita na cabeça kkk. Boas recordações
Abraços poeta amigo
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