O dedilhar descompassado
indica dedicação apressada.
Chorando notas de um passado
segue o operário em sua tocada.
Som de origem popular
onde o operário da rima
não resiste em improvisar,
conjugando seu ritmo com carisma.
Choro de Chiquinha Gonzaga,
republicana e abolicionista ousada,
dona de uma vida apaixonada,
considerada a maior compositora popular...
Com o cavaquinho no centro das cordas
a harmonia chora a alegria das hordas
acompanhando o descompassar dos chorões
que acelera no ritmo dos corações.
Com o Choro na alma e o Maxixe no pé...
Nas vertigens do “Corta-jaca” vou dançar.
Para Rui Barbosa, em discurso inflamado,
com “ritmos selvagens” não devo compactuar.
Como entender um poeta tão mal-humorado?
- Autor: Helio Valim (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 9 de novembro de 2020 20:00
- Comentário do autor sobre o poema: Esta é uma homenagem explícita ao Chorinho, seus chorões, ao Maxixe, ao Cateretê, ao Samba e a todos os ritmos marginalizados, muitas vezes perseguidos, do final do século XIX e início do XX. Ritmos populares, para os quais a elite da época “torcia o nariz”, mas escutava escondido. Para contextualizar descrevo e comento, com um olhar, talvez nem tanto isento um “causo” que envolveu a maestrina Chiquinha Gonzaga, a primeira-dama e caricaturista Nair de Teffé, o presidente Hermes da Fonseca e o senador Rui Barbosa, que ficou conhecido como a “Noite do Corta-jaca”. Chiquinha era uma compositora popular, que devido às suas músicas, suas atitudes e seu posicionamento político incomodava o establishment do início da República. Segundo o site ChiquinhaGonzaga.com, em 26 de outubro de 1914, Nair de Teffé tocou violão no lançamento do Maxixe “Corta-jaca”, composição Chiquinha Gonzaga, no Palácio do Catete, em recital que contou com a presença do presidente Hermes da Fonseca, em fim de mandato. O acontecimento provocou a ira de Rui Barbosa, seu adversário político, que fez um inflamado discurso moralista no Senado, atacando o presidente e chamando o ritmo de “a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens”. Como entender um poeta, além de advogado, diplomata, filólogo, jornalista... tão mal-humorado?
- Categoria: Não classificado
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Comentários3
Verdade amigo poeta! A peste do preconceito não poupa nem cérebros brilhantes!
Obrigado pelo comentário. É o preconceito surpreende! Aparece em momentos e atinge pessoas que deveriam ser isentas de tais sentimentos, principalmente quando se trata de cultura popular. Um abraço.
Bela homenagem a Chiquinha Gonzaga. Uma mulher a frente do seu tempo.
Abraços, ao poeta, Hélio Valim.
Olá Shimul! Obrigado pelo comentário. Sem dúvida ela rompeu e ajudou a mudar os padrões de comportamento de sua época. Um grande abraço.
De contra-partida, o Águia de Haia, deu uma pisadinha na bola.kkk
Você tem razão!
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