Percorro as ruas sem compromisso
Avisto de longe tão bela vitrine
Uma perfeita roupa, um belo vestido
Me aproximo com belo sorriso
Acho que combina em mim
Esse belo vestido.
Da porta, então, me aproximo
Espero o convite, entrar, olhar,
Provar, vestir, escolher, levar
Aquele belo vestido.
A porta se abre
Olhos assim assustados me diz:
Aqui nenhuma roupa
Lhe cabe, não tem
Sua medida.
Está desmedida,
Assim sem medida.
Não cabe na forma,
Está dissuadida
Um tanto assim iludida.
Talvez o sapato?
Ou a maquiagem
que falta em meus olhos?
É o batom,
Talvez descolorido?
Será o cabelo
que despenteado ficou?
Ou o esmalte
que desfarelou?
Será que a roupa que estou a vestir desbotou?
Será que o sapato sem que eu percebesse furou?
Será que falta uma marca
a ser trazida na calça?
Me vejo no tão grande espelho,
Procuro o meu grande defeito,
Não consigo enxergar minha tão grande desformidade.
Os olhos tão assustados se mantém
Cautelosos, aqui não pode entrar,
Provar, gostar, levar, o que vão pensar
Aqueles que estão a te ver lá fora?
Talvez eu vá deformar
Todas aquelas roupas.
Gritar, perguntar, tentar entender onde está
meu tão grande defeito?
Prefiro sair, sem nada pedir,
Talvez se a roupa me couber,
Descubro que não a deformo,
Mas ela pode, então,
deformar todo o meu ser.
- Autor: Priscila Ribeiro ( Offline)
- Publicado: 5 de novembro de 2020 14:20
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 26
Comentários3
Seu poema traduz uma necessidade da aceitação imposta a alguns de nós, meros mortais, que precisamos mesmo é jogar fora do nosso pensar.
Não vou a salão de beleza, pois aquilo que se me impõem, pra mim são valores nulos.
Eu me garanto
Tu te garantes
Ela e ele se garantem
E assim no plural e sucessivamente no meu modo de ver e pensar.
Meu eu mais bonito, é aquele quando estou nua...
Me entende poeta?
gostei da possibilidade de enquete e debate...
para refletir...
Parabéns!
Obrigada, Lucita. Belas palavras, somos o que somos sem precisar seguir um padrão imposto que abarca um grupo pequeno de pessoas. Nossa grandeza se mostra quando estamos mesmo nus, despidos de tudo aquilo que é mera aparência. Abraços, fraternos!!
Belíssimo poema. Com muita maestria, você conseguiu mostrar uma realidade cada vez mais presente. Um lindo dia.
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