Percorro as ruas sem compromisso
Avisto de longe tão bela vitrine
Uma perfeita roupa, um belo vestido
Me aproximo com belo sorriso
Acho que combina em mim
Esse belo vestido.
Da porta, então, me aproximo
Espero o convite, entrar, olhar,
Provar, vestir, escolher, levar
Aquele belo vestido.
A porta se abre
Olhos assim assustados me diz:
Aqui nenhuma roupa
Lhe cabe, não tem
Sua medida.
Está desmedida,
Assim sem medida.
Não cabe na forma,
Está dissuadida
Um tanto assim iludida.
Talvez o sapato?
Ou a maquiagem
que falta em meus olhos?
É o batom,
Talvez descolorido?
Será o cabelo
que despenteado ficou?
Ou o esmalte
que desfarelou?
Será que a roupa que estou a vestir desbotou?
Será que o sapato sem que eu percebesse furou?
Será que falta uma marca
a ser trazida na calça?
Me vejo no tão grande espelho,
Procuro o meu grande defeito,
Não consigo enxergar minha tão grande desformidade.
Os olhos tão assustados se mantém
Cautelosos, aqui não pode entrar,
Provar, gostar, levar, o que vão pensar
Aqueles que estão a te ver lá fora?
Talvez eu vá deformar
Todas aquelas roupas.
Gritar, perguntar, tentar entender onde está
meu tão grande defeito?
Prefiro sair, sem nada pedir,
Talvez se a roupa me couber,
Descubro que não a deformo,
Mas ela pode, então,
deformar todo o meu ser.