Ema Machado

Corpo fechado


Aviso de ausência de Ema Machado
NO

Corpo fechado...

Ema Machado

 

Ela andava atenta, a espreita. Estava irritada com aquela situação - afinal, ninguém conseguiu se safar, até então... Aquele a quem deveria levar, não iria escapar novamente…

Vestira-se à (caráter), o longo vestido negro de capuz caia-lhe bem. A foice estava reluzente e as longas unhas afiadas. Não se esquecera de nada. Até o cenário era ideal...

A noite prometia, chovia manso e uma densa neblina encobria a visão. Ela andava de um lado ao outro, incansável. Em uma dessas, um motorista atrapalhado derrapou na pista, só não capotou porque ainda não era o momento de sair de cena, tão pouco o lugar era dele. Teria que aguardar a vez, ainda teria seu tempo. 

Alguém gritou-lhe:

- Seu louco, vê se dirige com mais cautela! Quase provoca um acidente!

- Não tive culpa, algo passou na minha frente! Tentei frear, pensei ter visto alguém…

 

Ela ria da irritação que provocou... Se não tivesse tanta gana naquele garoto!

Não sabia porque ele tinha tanta sorte, se safara dela por duas vezes. Más não teria mais como...

 

Ele não se importava com prenúncios. Há tempos a sentia por perto. Duas vezes sentiu seu hálito gélido sobre a pele, marcou encontro com ela…  E não foi…

Trazia marcas no quadril, ela o arrastou para debaixo de uma dessas carretas de transporte de carga. Foram várias fraturas pelo corpo, mas ele não se deixou levar, lutou muito e venceu. A moto ficou em pedaços…

De outra feita, tinha despencado de um barranco, enquanto fazia uma trilha. Ficou sem a moto e sem andar por um ano… Decidiu comprar um carro, motos estavam lhe causando muitos prejuízos... 

 

Rui saiu do trabalho às dezoito horas. O dia continuava sisudo, não havia muito o que fazer, restava-lhe apenas ir até à casa da namorada, como sempre fazia as sextas-feiras.

O carro adquirido recente, dava-lhe uma sensação de aconchego e segurança para um dia chuvoso como aquele.

Enquanto dirigia, ia pensando sobre a árdua rotina daquele dia, não foi muito fácil, desentendeu-se com o chefe e acabou sendo deslocado para outra função. Tinha sorte, afinal não fora demitido como muitos ali queriam. Aquele emprego no ramo imobiliário era importante para ele, a namorada estava grávida, preparavam um cantinho para morarem juntos. 

Milena era perfeita para ele - linda, carinhosa e sempre buscando alternativas que facilitassem um relacionamento cordial. Quando disse que esperavam um filho, disse a ele que não iria pressionar para ficarem juntos, porém era o que ele mais desejava…

Parou no sinal vermelho e olhou para fora, algo o incomodava, não sabia exatamente o que poderia ser…

- Ei, perdeu! Saí do carro, anda, anda!

- Estou indo, não preocupa, mano!   

 

Descuidou-se... A janela estava aberta, ele sentiu o cano frio da arma no pescoço. Saiu do carro e ficou observando o bandido sair com seu carro, cantando pneu…

 

- Droga, mil vezes droga! E agora, o que faço?

  - Calma, Rui, precisa pôr os pensamentos em ordem. Dizia a si, andando de um lado ao outro, passando as mãos pelo cabelo. 

 

Apanhou o celular no bolso das calças. Antes de ligar para namorada, pensou que tivera sorte em não tê-lo colocado no compartimento porta luvas como sempre fazia.

- Oi! Amor. Acabaram de levar meu carro. Vou fazer um registro na delegacia, ligar para o seguro e pegar um táxi para chegar aí. Não tem nada de valor dentro do carro e o seguro está em dia, não se preocupe. Beijo.

 

Dentro do carro, Jones ia pensando no próximo passo... Iria fazer alguns assaltos e depois deixaria o carro em algum canto, como sempre fazia. Ligou o rádio, mudou de estação até encontrar um ‘funk’ e pisou fundo no acelerador - estava a cem quilômetros por hora…

 

Ela ficou radiante quando viu o carro dele virar a esquina, estava com pressa, ela adorava isso. Rapidamente colocou-se na posição de ataque. A pista molhada e um pouco de óleo eram seus aliados… Mais um pouquinho, e…

- Droga, não é ele! Escapou, novamente! 

- Terei que levar este idiota aqui, por enquanto… 

Do outro lado, enquanto ainda fazia o registro na delegacia, Rui recebia a notícia da perda total do carro… 

- Ainda bem! Que fiz o seguro, seu delegado! Ainda bem!

 

Não muito longe, um anjo alçava voo. Completara a missão para a qual havia sido convocado… O bebê a caminho teria um pai... 

 

 

 

 

 

  • Autor: Ema Machado (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 22 de Outubro de 2020 21:12
  • Categoria: Conto
  • Visualizações: 18

Comentários3

  • Hébron

    Interessante conto, poetisa de múltiplos estilos!
    Comecei a ler e só parei quando acabou.
    Muito bom!
    Abraço

    • Ema Machado

      Obrigada, Hébron. Que bom! Que gostou... Me aventuro na poesia e em alguns contos, meu foco é a escrita para crianças. Grande abraço,

    • Maria dorta

      Bravo! Conto bem bolado. Você é camaleão!

      • Ema Machado

        Obrigada, menina! Apenas um exercício de escrita. O primeiro de ‘suspense’, o próximo pode ser melhor, não é? Abraço,

        • Maria dorta

          Ótimo! Vá em frente!

        • Edla Marinho

          Excelente!!! Já gosto muito de suas poesias, agora gostei também do conto.
          Muito interessante, fui tomando gosto a cada linha.
          Meus parabéns, de coração, poetisa Mari.
          Quero lhe desejar um feliz final de semana.
          Meu abraço.

          • Ema Machado

            Obrigada, querida amiga. Sinto-me feliz com suas palavras de incentivo. Tenha um excelente final de semana. Grande abraço,



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