Marcellus Augusto

Quando o vício se transforma em símbolo de humanidade

Vício, o que é o vício? 

O vício é uma desordem natural?

Talvez, uma fuga da realidade

Uma forma de se esconder dos problemas

Uma forma de não encarar as dores 

Um ato de fraqueza diante da realidade, 

Ou um ato de humanidade para consigo mesmo. 

Estou preso nele, no maldito vício 

No vício proibido

No vício que me prende

No vício que me arrebenta

No vício que me atormenta 

No vício que me vence e me subjulga

No meu cativeiro babilônico que estou destinado para viver. 

O meu vício me expõe 

Ele me denuncia,

Ele depõe contra as minhas fraquezas, 

Arranca do meu rosto todas as máscaras

Abre uma ferida no meu peito 

Despedaça a minha alma 

E me revela realmente quem sou.

Nem o maior escapista do mundo é capaz de fugir do vício

Nem o maior mágico é capaz de enganá-lo 

Nem o maior médico é capaz de curá-lo por si só. 

Só vence o vício com coragem 

Só enfrenta o leão quem é capaz de morrer na batalha 

Só é capaz de se curar, quem assume a falência das falsas imagens de si

Só quem conquista a libertação é quem assume que ainda vive em prisão,

O vício é a minha alma gritando pela verdade

É a esperança de socorro para salvação das minhas mentiras 

É a expectativa de assumir quem sou 

De não temer ser quem devo ser, ainda que isso me custe algo. 

O vício é o homem se conhecendo como homem

Descobrindo a sua infinitude 

Expondo as suas fraquezas 

Assumindo as suas doenças

Confessando a sua humanidade 

Contemplando a sua mediocridade 

Compreendendo a sua miséria 

E caminhando com as suas marcas e dores.

O vício é a companhia desagradável, mas necessária 

É o tormento eterno, mas que é passageiro, 

É a ferida aberta que não cicatriza

Machuca, mas não sangra 

Dói, mas não tem marca 

Destrói a tua mente, sem dizer o motivo 

Afasta você dos seus amigos sem explicação 

Mente para ti sem dizer uma palavra 

Despedaça a tua pessoa sem fazer uma ação, porque deixa você fazer tudo sozinho. 

O vício é a paixão arrebatadora que te joga no abismo 

Coloca-te no processo de auto traição 

E te consola com novas mentiras.

A única coisa que te sobra é a dor, choro e a decepção de saber que o tempo passou, 

Dos amores que se foram

Das pessoas que não estão mais

Das oportunidades perdidas 

Das ações que não aconteceram 

Do tempo perdido 

Da imagem destruída

Das dores desnecessárias 

Dos choros inevitáveis

Da vida que passou e você não viu

Da pessoa que você poderia ser, mas não foi.

Como um demônio da meia-noite,

Ele te assombra quando tu tem paz

Ele te aflinge quando você repousa 

Ele te perturba quando você tá feliz 

Ele te invande quando você tá triste

Ele te consome quando você odeia 

Ele te machuca quando você ama. 

A única coisa que sobra é a coragem,

A persistência para lutar 

A vontade para vencer 

A resistência para seguir 

O ódio ao vício para continuar 

E a esperança que tudo vai mudar. 

O vício não é maldição,

Não é diabo, 

Nem praga, 

Nem culpa, 

Nem sobrenatural,

Nem desproporcional. 

O vício é humano

O vício é passageiro

É a alma pedindo por cura

É a alma exigindo verdade para si

É a alma buscando encontro, reencontro, desencontro e um pouco de tudo, 

É a testificação que você é humano e precisa de ajuda, 

É a marca da humildade

O sinal de imperfeição 

A certeza de humanidade 

E a esperança de salvação. 

 

 

  • Autor: Místico (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 15 de Outubro de 2020 01:40
  • Comentário do autor sobre o poema: Escrevi esse texto para falar sobre o vício, o quanto ele faz mal, como ele destrói, como ele arrebenta com a alma. Entretanto, ele pode ser uma mensagem de consolo, um símbolo de humanidade, de limitação, de encontro, de ajuda, pode ser uma forma de lembrar que você não tá sozinho, que a ideia do indivíduo isolado do mundo é uma mentira. A ideia do homem perfeito e divino, só cabe para Jesus, você é falho, limitado, cheio de vícios, porque é humano demais e só se cura dos vícios, quando você assume que é humano e falho.
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 13

Comentários2

  • Shmuel

    Este mal que assola a humanidade exposto, em um texto sensível e ao mesmo tempo corajoso.
    Muito oportuno, bom dia,
    Peregrino Anonimom

  • Maximiliano Skol

    O vício é apanágio do ser racional como irracional,.é dependente do hábito por repetição do ato. " É um processo de autotraiçâo", como você expôs numa brilhante explanação do vício.
    Parabéns, Peregrino anônimo. Aprecio as suas mensagens .
    Um abração.



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