Vício, o que é o vício?
O vício é uma desordem natural?
Talvez, uma fuga da realidade
Uma forma de se esconder dos problemas
Uma forma de não encarar as dores
Um ato de fraqueza diante da realidade,
Ou um ato de humanidade para consigo mesmo.
Estou preso nele, no maldito vício
No vício proibido
No vício que me prende
No vício que me arrebenta
No vício que me atormenta
No vício que me vence e me subjulga
No meu cativeiro babilônico que estou destinado para viver.
O meu vício me expõe
Ele me denuncia,
Ele depõe contra as minhas fraquezas,
Arranca do meu rosto todas as máscaras
Abre uma ferida no meu peito
Despedaça a minha alma
E me revela realmente quem sou.
Nem o maior escapista do mundo é capaz de fugir do vício
Nem o maior mágico é capaz de enganá-lo
Nem o maior médico é capaz de curá-lo por si só.
Só vence o vício com coragem
Só enfrenta o leão quem é capaz de morrer na batalha
Só é capaz de se curar, quem assume a falência das falsas imagens de si
Só quem conquista a libertação é quem assume que ainda vive em prisão,
O vício é a minha alma gritando pela verdade
É a esperança de socorro para salvação das minhas mentiras
É a expectativa de assumir quem sou
De não temer ser quem devo ser, ainda que isso me custe algo.
O vício é o homem se conhecendo como homem
Descobrindo a sua infinitude
Expondo as suas fraquezas
Assumindo as suas doenças
Confessando a sua humanidade
Contemplando a sua mediocridade
Compreendendo a sua miséria
E caminhando com as suas marcas e dores.
O vício é a companhia desagradável, mas necessária
É o tormento eterno, mas que é passageiro,
É a ferida aberta que não cicatriza
Machuca, mas não sangra
Dói, mas não tem marca
Destrói a tua mente, sem dizer o motivo
Afasta você dos seus amigos sem explicação
Mente para ti sem dizer uma palavra
Despedaça a tua pessoa sem fazer uma ação, porque deixa você fazer tudo sozinho.
O vício é a paixão arrebatadora que te joga no abismo
Coloca-te no processo de auto traição
E te consola com novas mentiras.
A única coisa que te sobra é a dor, choro e a decepção de saber que o tempo passou,
Dos amores que se foram
Das pessoas que não estão mais
Das oportunidades perdidas
Das ações que não aconteceram
Do tempo perdido
Da imagem destruída
Das dores desnecessárias
Dos choros inevitáveis
Da vida que passou e você não viu
Da pessoa que você poderia ser, mas não foi.
Como um demônio da meia-noite,
Ele te assombra quando tu tem paz
Ele te aflinge quando você repousa
Ele te perturba quando você tá feliz
Ele te invande quando você tá triste
Ele te consome quando você odeia
Ele te machuca quando você ama.
A única coisa que sobra é a coragem,
A persistência para lutar
A vontade para vencer
A resistência para seguir
O ódio ao vício para continuar
E a esperança que tudo vai mudar.
O vício não é maldição,
Não é diabo,
Nem praga,
Nem culpa,
Nem sobrenatural,
Nem desproporcional.
O vício é humano
O vício é passageiro
É a alma pedindo por cura
É a alma exigindo verdade para si
É a alma buscando encontro, reencontro, desencontro e um pouco de tudo,
É a testificação que você é humano e precisa de ajuda,
É a marca da humildade
O sinal de imperfeição
A certeza de humanidade
E a esperança de salvação.