Rui Rocha

Escuta-me



Amor,

 

Escuta-me, vou falar-te ao ouvido

Muito baixo, como quem diz um segredo

Vou contar-te o que trago na alma

Toda esta angústia e talvez certo medo

O desassossego, adverso da calma

Que carrego e nunca tinha vivido.

 

É um ardor que queima, sem queimar

Que corrói, fundo, sem jamais perdoar

Que não mata, mas fere, devagar

Castigo da fraqueza de amar.

 

Sabias isso, sei que sim, que sabias

Quando partimos, juntos, mas distantes

Ambos, cheios de sonhos e utopias

Certos de que iríamos ser amantes.

 

E assim foi,

 

Naquela noite, olhámos e vimos Marte,

Abraçados no topo desse nosso mundo;

Decidido, feliz, declarei amar-te

Num sentimento sincero e profundo.

 

Senti que tudo queria largar por ti,

Partir, fugir, mudar de vida, ser feliz.

Ilusão intensa, o que senti, ali,

Ao desejar fazer o que nunca fiz.

 

Percebo que não te sintas como eu,

Vivas o amor de forma diferente;

Eu, existo neste mundo que é só meu

Onde te quis prender com uma corrente.

 

Mas não consegui.

 

Tu,

 

És uma ave livre, bela, catita

Que não quer estar presa numa gaiola,

Atrevida, que quase nunca hesita

Solta, livre, como um sopro de viola.

 

Querida,

 

Disse-te que não choro, mas sim, sim, choro

E com essas lágrimas apago a chama

Do fogo daquele amor que adoro

Mas que percebi que não me quer, não me ama.

  

Agora sofro,

 

Do desamor que o amor me provocou

Desta ilusão que não vai ser cumprida

Do afastamento de quem se afastou

Da utopia que jamais será vivida.

 

Ai, como é difícil viver assim

Longe, triste, sozinho, afastado;

Numa existência sempre longe do fim

Que só tem presente, hoje, não passado.

 

Triste aquele que ama sem ser amado,

Que persegue sem nunca alcançar

E tem na alma, presente, bem marcado,

A dor, a saudade, de ter querido amar.

 

Talvez não percebas bem o que te digo,

Gostava tanto que fosse diferente;

Poder deixar de seguir o que sigo

Largar tudo, contigo, partir em frente.

 

Ambos jurámos segredo profundo

Num mistério que queríamos só nosso,

Para guardar para a eternidade.

Queria revelá-lo, mas não, não posso,

E isso dói-me, nem imaginas, verdade

É a dor mais pesada deste meu mundo.

  • Autor: Rui Rocha (Offline Offline)
  • Publicado: 26 de Setembro de 2020 19:44
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 17

Comentários1

  • @(ND)

    O amor e a dor , num paralelo constante ... Obrigada pela partilha poeta...



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