COMPREENSÃO
A rua onde nasci era larga e extensa de vozes.
Nela havia uma velha casa de espera e de descobertas.
Minha mãe me ensinava a brincar de ver.
Ficava ao meu lado e com suas mãos me entregava seus olhos.
Dizia-me: O que vens?
Eu menino, com zeloso brio elaborava narrativas não aparentes.
As vezes via um pássaro falando com o vento.
Ora, era um arco-íris despontando no anoitecer.
E até eu voava, buscando palavras com asas.
Lembro-me quando lhe disse:
- Estou vendo uma dança no céu.
E ela pediu-me para tomar cuidado com os instrumentos, marcar os passos, ouvir a sinfonia.
E asseverou: Veras na vida aparências e essências.
Mas não tenha receio de vislumbrar.
No fim o que fica é o que se olha para dentro.
Antes de saber ler e escrever compreendi a ver poesia.
Carlos Daniel Dojja
In Poemas para Crianças Crescidas
- Autor: Carlos Daniel Dojja (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 18 de setembro de 2020 09:32
- Comentário do autor sobre o poema: Relato como aprendi a ter um olhar poético na infância.
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 13
Comentários3
Podemos perceber, Carlos, que o sonho embala à fantasia. Às vezes, sem podermos ver, enxergamos o essencial com os olhos da alma.Sua mãe era sábia, como todas as mães - um pouco ou mais - sábias. Bonita poesia! Lição de vida.Parabéns!
Muito obrigado, Jucklin. Aprendemos a ver a vida com os olhos da alma e do coração. Um fraternal abraço
Que poema bonito!
Adorei ler.
..."Antes de saber ler e escrever compreendi a ver poesia."
Abraços, amigo, Carlos. Daniel Dojja.
Que lindooo, sempre falo que a poesia transcende , alça voos... e a sua poesia meu amigo poeta transcendeu... Valeu pela partilha Carlos...
Obrigado, Neiva Dirceu, pelo incentivo generoso. Um abraço
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