No limite do ano,
escuto o vento recolher
nomes que já não me alcançam.
Ele passa sem pedir licença,
desarruma o que restou
e, ao ir, ensina:
nada permanece intacto
depois que aprende a seguir.
A terra, exausta de sustentar excessos,
acolhe minhas quedas sem pergunta.
Nela enterro promessas partidas,
medos antigos
e a ilusão de controle
— peso maior que qualquer fracasso.
O chão não exige sentido,
apenas silêncio e entrega.
A noite chega inteira.
Não como ameaça,
mas como intervalo.
Sob o céu escuro,
reconheço minhas falhas
sem pressa, sem vergonha,
como quem lê a própria história
sem cortes, sem defesa.
A escuridão não apaga:
aprofundar também é amadurecer.
O rio segue,
indiferente aos meus atrasos.
Nele aprendo
que não é preciso voltar
para continuar.
Basta permitir
que a água leve
o que já não consegue ser meu.
No fim, permaneço.
Mãos abertas.
O tempo respirando por dentro.
Planto em mim sementes discretas,
dessas que não pedem aplauso.
O ano termina —
mas algo insiste em nascer
e caminhar comigo.
-
Autor:
Sezar Kosta (
Offline) - Publicado: 30 de dezembro de 2025 08:29
- Comentário do autor sobre o poema: Quando os ciclos se encerram, o mundo nos convida a soltar as âncoras de tudo o que tentamos, sem sucesso, carregar. É o momento de trocar a ansiedade pelo controle pela calma de quem aceita a própria trajetória, com todos os seus erros e cicatrizes expostos. Em vez de lutar contra a correnteza das mudanças, devemos permitir que o fluxo da vida leve o que perdeu o sentido, deixando espaço para o essencial. No silêncio desse desapego, a esperança deixa de ser um evento barulhento e se torna um crescimento discreto, mas imparável, dentro de nós.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 5
- Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta

Offline)
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.