Sezar Kosta

O QUE GERMINA QUANDO O ANO SILENCIA

No limite do ano,

escuto o vento recolher

nomes que já não me alcançam.

Ele passa sem pedir licença,

desarruma o que restou

e, ao ir, ensina:

nada permanece intacto

depois que aprende a seguir.

 

A terra, exausta de sustentar excessos,

acolhe minhas quedas sem pergunta.

Nela enterro promessas partidas,

medos antigos

e a ilusão de controle

— peso maior que qualquer fracasso.

O chão não exige sentido,

apenas silêncio e entrega.

 

A noite chega inteira.

Não como ameaça,

mas como intervalo.

Sob o céu escuro,

reconheço minhas falhas

sem pressa, sem vergonha,

como quem lê a própria história

sem cortes, sem defesa.

A escuridão não apaga:

aprofundar também é amadurecer.

 

O rio segue,

indiferente aos meus atrasos.

Nele aprendo

que não é preciso voltar

para continuar.

Basta permitir

que a água leve

o que já não consegue ser meu.

 

No fim, permaneço.

Mãos abertas.

O tempo respirando por dentro.

Planto em mim sementes discretas,

dessas que não pedem aplauso.

O ano termina —

mas algo insiste em nascer

e caminhar comigo.