O CACIMBÃO DA OTORIDADE
Aqui é terra de matuto
De home da terra e do mato
Terra seca e barro enxuto
Homi sem letra e sem trato
Nem nos livros sabe ler
Mas as coisas que tem aqui
Ele sabe bem escrever.
Vive da foice e da enxada
E faz com elas quarquer poema
O chão seco é o papé
E com as mãos caliçada
Resolve quarquer pobrema
Mesmo sem saber o que é.
Trabaia de sor a sor
No calor, no sereno e frio
Mas assim mermo ainda faz fartura
E sem água de chuva ou rio
É com Feijão e rapadura
Que ele criava quinze fio.
E quando a noite chegava
Pra alumiar o terreiro
A fiarada se ajuntava
Na parede da tapera
Pendurava - se o candeeiro
que tombem alumiava a pobreza
Sabendo que no outro dia
O sor quente que ardia
era sua mais certa certeza.
Ali o esquecimento era certo
Nenhum dotô da cidade
Nem se quer chegava perto
Pra dar arguma atenção
E as tá de otoridade
Por lá só aparecia
em tempo de inleição.
Por lá aparecia
pra fazer o tá compromisso
Prometia fazer cacimbão
Tudo que valesse o sacrifiço
Inté cheirar menino bufão
Pois quarquer engano
servia pra ganhar a tar votação.
Depois sumia no eito
A pobreza não se apalacava
Tudo ficava do mesmo jeito
E a mísera só aumentava
E os tar vereador e prefeito
De nada nem se alembrava
Das premessa que fazia
E dos pobre que enganava.
E aquelas mesma famia
Só tinha um taco de sorte
Quando por sorte a chuva caia
Pois até esqueciam da morte
Porque o grão que saía do chão
era o que lhe trazia
a mais benfazeja alegria.
Nem dotô nem otoridade
Nunca mais apareceu
Fugiro do mato e da cidade
E quando passa por um pobre
finge que não conheceu
Mas vem de novo inleição
E a premessa do cacimbão
De novo é o compromisso
Que ele noutro dia premeteu!
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Autor:
Carlos (Pseudónimo (
Offline) - Publicado: 27 de dezembro de 2025 18:53
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 2

Offline)
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