Carlos Lucena

O CACIMBÃO DA OTORIDADE

O CACIMBÃO DA OTORIDADE

Aqui é terra de matuto
De home da terra e do mato
Terra seca e barro enxuto
Homi sem letra e sem trato
Nem nos livros sabe ler
Mas as coisas que tem aqui 
Ele sabe bem  escrever.

Vive da foice e da enxada
E faz com elas quarquer  poema 
O chão seco é  o papé
E  com as mãos caliçada
Resolve quarquer pobrema
Mesmo sem saber o que é.

Trabaia de sor a sor
No calor, no sereno e frio
Mas assim mermo ainda faz fartura
E sem água de chuva ou rio
É com Feijão e rapadura 
Que  ele criava quinze fio.

E quando a noite chegava
Pra alumiar o terreiro
A fiarada se ajuntava
Na parede da tapera 
Pendurava - se o candeeiro
que tombem alumiava  a pobreza
Sabendo que no outro dia 
O sor quente que ardia 
era sua mais certa certeza.

Ali o esquecimento era certo
Nenhum dotô da cidade
Nem se quer chegava perto
Pra dar arguma atenção 
E as tá de otoridade
Por lá só aparecia 
em tempo de inleição.

Por lá aparecia 
pra fazer o tá compromisso
Prometia fazer cacimbão
Tudo que  valesse o sacrifiço
Inté cheirar menino bufão 
Pois quarquer engano 
servia pra ganhar a tar votação.

Depois sumia no eito
A pobreza não se apalacava 
Tudo ficava do mesmo jeito
E a mísera só aumentava 
E os tar vereador e prefeito
De nada nem se alembrava
Das premessa que fazia
E dos pobre que enganava.

E aquelas mesma famia
Só tinha um taco de sorte 
Quando por sorte a chuva caia
Pois até esqueciam da morte
Porque o grão que saía do chão 
era o que lhe trazia 
a mais benfazeja alegria.

Nem dotô nem otoridade
Nunca mais apareceu
Fugiro do mato e da cidade
E quando passa por um pobre 
finge que  não conheceu
Mas vem de novo inleição
E a premessa do cacimbão
De novo é o compromisso
Que ele noutro dia premeteu!