Quando o clima natalino é ativado,
o bom senso tira férias sem aviso
e o coração — esse órgão pouco confiável —
assume o comando como quem diz:
relaxa, hoje eu sei o caminho.
Confesso:
nesses dias como sem negociar com a consciência,
rio alto demais para o tamanho da sala,
e conto a mesma história
com a convicção ingênua
de que ela ainda pode surpreender alguém
— inclusive a mim.
Há algo de profundamente filosófico
nessa suspensão temporária da lucidez.
Como se a vida, cansada de explicações,
permitisse um intervalo
onde exagerar não é erro,
é método de sobrevivência.
A mesa farta me observa em silêncio.
Ela sabe.
Sabe que não é sobre comida,
nunca foi.
É sobre cadeiras ocupadas,
mãos que se esbarram,
presenças que dizem
“estou aqui”
sem precisar provar nada.
E eu, mulher feita de dúvidas bem-organizadas,
percebo que no Natal
até minhas certezas afrouxam o nó.
Talvez porque o coração,
quando assume o comando,
não exige coerência —
apenas verdade sentida.
Cada riso vira abrigo.
Cada exagero, uma memória em formação.
E a esperança… ah, a esperança,
essa não se desembrulha nunca.
Ela fica ali, quieta,
como uma luz esquecida acesa na cozinha,
iluminando sem alarde
os dias comuns que ainda virão.
No fundo, suspeito —
com uma ironia carinhosa —
que o Natal é só isso:
uma desculpa poética
para lembrarmos que viver
também pode ser leve,
mesmo quando não sabemos exatamente
para onde estamos indo.
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Autor:
Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (
Offline) - Publicado: 24 de dezembro de 2025 17:51
- Comentário do autor sobre o poema: Quando o clima natalino é ativado, o bom senso descansa e o coração assume o comando. No Natal, tudo é permitido: comer sem culpa, rir sem medida e repetir histórias como se fosse a primeira vez. Cada exagero vira lembrança, cada riso vira abrigo, e a mesa farta revela mais do que comida — revela presença. Porque, no fim, a esperança é o único presente que nunca se desembrulha por completo: ela permanece, silenciosa, iluminando os dias que virão. Feliz Natal!
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 2
- Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena

Offline)
Comentários1
E aí, poeta! Que este Natal seja um portal para um novo poema na sua alma, cheio de rimas de alegria e estrofes de paz! Que a luz dessa noite ilumine seus versos e aqueça seu coração. Feliz Natal!
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