Há noites em que o mundo pesa mais.
Não pela escuridão em si,
mas pelo cansaço acumulado nos olhos.
É então que a palavra precisa aprender
a acender-se sozinha,
sem plateia,
sem anúncio.
Enquanto vozes antigas cantam glórias
em alturas que não alcançamos,
a poesia permanece aqui embaixo,
com os pés no chão frio,
tentando iluminar o que tropeça.
Ela não promete salvação —
oferece direção.
Surge nos gestos comuns:
na frase escrita à mesa tarde da noite,
no bilhete esquecido entre páginas,
no silêncio respeitado quando não há resposta.
É luz pequena, doméstica,
mas suficiente para atravessar corredores longos
e dias mal explicados.
O Natal, então, deixa de ser cenário
e se torna responsabilidade.
Ele cobra da palavra um compromisso:
não enfeitar a dor,
não negar a sombra,
não fingir pureza onde há feridas abertas.
Encantar, aqui, é permanecer
sem perder a ternura.
Pois a poesia também conhece o risco:
pode cansar,
pode falhar,
pode ser ignorada.
Ainda assim, insiste.
Porque sabe que, sem ela,
a noite vence por abandono.
Quando o Natal renova sua missão,
não pede brilho excessivo,
mas fidelidade.
Que cada verso seja abrigo,
cada imagem, um ponto de apoio,
cada palavra, um gesto que resista
à indiferença.
E se algo precisa nascer agora,
que não seja apenas esperança abstrata,
mas a coragem concreta
de continuar iluminando —
mesmo quando ninguém vê,
mesmo quando a noite parece definitiva,
mesmo quando cantar é mais difícil
do que calar.
-
Autor:
Sezar Kosta (
Offline) - Publicado: 24 de dezembro de 2025 16:20
- Comentário do autor sobre o poema: Há momentos em que seguir em frente já é um ato de coragem silenciosa. Quando o brilho exagerado falha, são os gestos pequenos e honestos que ajudam a atravessar os dias confusos. A luz verdadeira não ignora o cansaço nem disfarça a dor, mas escolhe permanecer com cuidado. Continuar, mesmo sem aplausos, é uma forma concreta de resistência humana.
- Categoria: Ocasião especial
- Visualizações: 3
- Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta, Luana Santahelena

Offline)
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.