Sezar Kosta

OFÍCIO DA LUZ NO NATAL

Há noites em que o mundo pesa mais.

Não pela escuridão em si,

mas pelo cansaço acumulado nos olhos.

É então que a palavra precisa aprender

a acender-se sozinha,

sem plateia,

sem anúncio.

 

Enquanto vozes antigas cantam glórias

em alturas que não alcançamos,

a poesia permanece aqui embaixo,

com os pés no chão frio,

tentando iluminar o que tropeça.

Ela não promete salvação —

oferece direção.

 

Surge nos gestos comuns:

na frase escrita à mesa tarde da noite,

no bilhete esquecido entre páginas,

no silêncio respeitado quando não há resposta.

É luz pequena, doméstica,

mas suficiente para atravessar corredores longos

e dias mal explicados.

 

O Natal, então, deixa de ser cenário

e se torna responsabilidade.

Ele cobra da palavra um compromisso:

não enfeitar a dor,

não negar a sombra,

não fingir pureza onde há feridas abertas.

Encantar, aqui, é permanecer

sem perder a ternura.

 

Pois a poesia também conhece o risco:

pode cansar,

pode falhar,

pode ser ignorada.

Ainda assim, insiste.

Porque sabe que, sem ela,

a noite vence por abandono.

 

Quando o Natal renova sua missão,

não pede brilho excessivo,

mas fidelidade.

Que cada verso seja abrigo,

cada imagem, um ponto de apoio,

cada palavra, um gesto que resista

à indiferença.

 

E se algo precisa nascer agora,

que não seja apenas esperança abstrata,

mas a coragem concreta

de continuar iluminando —

mesmo quando ninguém vê,

mesmo quando a noite parece definitiva,

mesmo quando cantar é mais difícil

do que calar.