Castanha de caju

Well Calcagno

Castanha de caju

 

A sola do sapato gasta

De tanto vagar pelo mundo

Permite sentir o calor do chão

De concreto

A dor causada por cada pedra

Que o pé pisa,

Na ida, na vinda,

No fluxo contínuo dos dias.

 

A cabeça cansada

Da falsa simpatia

Na cidade da ilusão,

O peito grita silenciosamente,

Não se pode demonstrar

O que traz por dentro.

 

Estamos todos adoecendo

Dia após dia

No corpo,

Na mente,

Nas marcas eternas

Que trazemos na alma.

 

Reflexo dessa realidade doentia

Que criamos à nossa volta.

A amendoeira no ponto de ônibus

Traz em sua sombra um leve alívio,

A brisa de maio acaricia o corpo.

 

Fazem-nos esquecer

por um momento

Que a vida é o breve ensaio

Da morte.

 

Tudo morre, as flores, as crianças

Os belos dias com suas luzes,

E no entanto continuamos vivos

Persistindo com a bravura infante

De um espírito perdido

Em meio ao caos.

Resistindo ao fim que nos é guardado.

 

A castanha de caju na calçada suja

Lembra a primeira tatuagem

Marcas duradouras dum passado puro.

Faz lembrar que tantas outras marcas ainda virão.

 

5 Mai 2025.
 
  • Autor: Well Calcagno (Offline Offline)
  • Publicado: 23 de dezembro de 2025 06:24
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 2


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