Desejar é fácil —
aprendi cedo,
como quem aprende a respirar
ou a sonhar acordada no ônibus.
Difícil é convencer o saldo bancário
de que o desejo
é uma prioridade existencial,
dessas que pedem colo
e parcelamento em doze vezes.
Quero ser zen,
sentar em posição de lótus
no tapete da sala,
mas o vizinho liga a furadeira
às sete da manhã
e ilumina meu chakra da impaciência
com concreto armado.
Respiro.
Ou finjo.
A paz interior também cochila.
Quero ser dona do dinheiro,
mas ele se comporta como um gato arisco:
some quando mais preciso,
derruba coisas importantes da mesa
e só volta quando quer,
ronronando juros baixos
e promessas vagas.
Dialogo comigo mesma no espelho:
— calma, menina,
a vida não é uma planilha.
Ela responde torto,
ri de lado
e me oferece um boleto
como quem oferece flores.
No meio do caos,
descubro o segredo mínimo:
rir.
Rir do desejo exagerado,
do zen interrompido,
do gato financeiro que não me obedece.
Porque, se eu levar tudo a sério demais,
o único desejo que sobra
— esse sim, urgente —
é o de um feriado eterno,
onde o tempo tira folga,
o dinheiro dorme
e a furadeira, por milagre,
aprende a meditar.
-
Autor:
Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (
Offline) - Publicado: 19 de dezembro de 2025 23:18
- Comentário do autor sobre o poema: A vida adulta é esse exercício diário de equilibrar sonhos e boletos, silêncio interno e ruídos do mundo. Buscamos calma, mas a realidade insiste em nos despertar antes do tempo. Entre desejos, limites e frustrações pequenas, aprendemos que nem tudo se resolve com controle. Às vezes, rir é a forma mais lúcida de seguir adiante.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 2
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