Não é pela insatisfação ou pela revolta.
Não é pelo amanhã nem pelo hoje; existir não se explica.
Quem morre não conta como foi,
nem a criança sabe explicar como é não existir sem ter existido.
O que eu cobiço, anseio, desejo, não me pertence…
Como não me pertence?
Será que até mesmo os perdidos, nos desesperos, já a alguém pertencem?
Ou é apenas, então, a dor nos poemas escritos
nas entrelinhas místicas dos sonetos mal contados
por homens bêbados, sem ter onde cair mortos, sem honras sequer?
Antes de mim, foste sombra e luz
nos poemas cantados pelos tenazes.
Foste vida e inexistência
enquanto seus brotos sufocavam no solo ríspido.
Foste tudo, foste nada.
Não me parece justo morrer uma morte sofrida.
Não me parece justo eu ser eu mesmo.
Não parece justo ser justo
e coabitar entre os justos para ser injusto.
nani ke luna ye nkumbu
dila kwa Nzambi mu baka mosi!
(Quem não tem nome chora a Deus para ter um.)
-
Autor:
Negro Poeta (Pseudónimo (
Offline) - Publicado: 18 de dezembro de 2025 08:42
- Comentário do autor sobre o poema: O poema fala da angústia de existir sem entender por quê. A vida aparece como algo que simplesmente acontece, sem explicação ou justiça. O eu lírico sente que não pertence a lugar nenhum e que até os seus desejos estão sempre fora de alcance. Entre os versos, surge a dor de quem vive à margem, sem nome, sem reconhecimento e sem voz. A ideia de justiça é colocada em dúvida, pois o mundo se diz justo, mas trata muitos de forma injusta. A dor acumulada vira palavra, verso, lamento. No fim, o poema se transforma quase numa oração: ter um nome é existir. Quem não tem nome chora a Deus para ser visto, para ser reconhecido como gente. No fundo, o texto fala da busca por identidade, dignidade e sentido em meio a um mundo que frequentemente nega pertencimento.
- Categoria: Espiritual
- Visualizações: 4

Offline)
Comentários1
Um poema e tanto! Adorei ler!
Abraços!
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.