Miguel Candumbo Celestino Magalhães

O NOME QUE FALTA

Não é pela insatisfação ou pela revolta.

Não é pelo amanhã nem pelo hoje; existir não se explica.

Quem morre não conta como foi,

nem a criança sabe explicar como é não existir sem ter existido.

 

O que eu cobiço, anseio, desejo, não me pertence…

 

Como não me pertence?

Será que até mesmo os perdidos, nos desesperos, já a alguém pertencem?

Ou é apenas, então, a dor nos poemas escritos

nas entrelinhas místicas dos sonetos mal contados

por homens bêbados, sem ter onde cair mortos, sem honras sequer?

 

Antes de mim, foste sombra e luz

nos poemas cantados pelos tenazes.

Foste vida e inexistência

enquanto seus brotos sufocavam no solo ríspido.

Foste tudo, foste nada.

 

Não me parece justo morrer uma morte sofrida.

Não me parece justo eu ser eu mesmo.

Não parece justo ser justo

e coabitar entre os justos para ser injusto.

 

nani ke luna ye nkumbu

dila kwa Nzambi mu baka mosi!

(Quem não tem nome chora a Deus para ter um.)