Acreditar em amor predestinado é curioso,
penso enquanto erro pela nonagésima nona vez
o nome da rua,
o tom da mensagem,
o horário do coração.
Digo que foi o destino
— ele, sempre disponível para levar bronca —
como um vaso quebrado que jura inocência
no meio da sala.
Mas quando acerto,
quando o riso encaixa
e o silêncio não pesa,
aponto para o céu com ar de especialista:
*eu sabia*.
O destino me observa da poltrona,
cruza as pernas,
não confirma nem desmente.
Ele sabe que escolhi no impulso,
com a pressa de quem tem medo
de perder o próximo trem
ou o próximo amor
(às vezes é o mesmo).
Errar noventa e nove vezes
não me parece desperdício.
É treino.
É ensaio geral da alma
para aquele instante em que tudo
coincidentemente
funciona.
Talvez o amor predestinado
seja apenas isso:
o raro momento em que o acaso
aceita levar crédito,
e eu, vaidosa e aliviada,
finjo que sempre confiei no plano.
No fundo,
continuo escolhendo às cegas,
rindo do paradoxo,
agradecendo ao destino
como quem agradece à sorte
por não atrapalhar
quando, por acaso,
eu acerto.
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Autor:
Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (
Offline) - Publicado: 13 de dezembro de 2025 21:25
- Comentário do autor sobre o poema: Acreditar em amor predestinado é curioso: a gente erra noventa e nove vezes, mas quando acerta, diz “eu sabia!”. O destino, coitado, vive levando a culpa das nossas escolhas impulsivas… mas quando dá certo, a gente agradece como se ele tivesse planejado tudo sozinho.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 5
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