Nasci sem pedir por este instante,
lançado ao acaso em um mundo que não escolhi,
num tempo que corre depressa demais
para quem quer sentir,
e devagar demais
para quem só quer escapar.
Cresci vendo pessoas perseguirem miragens,
colecionarem vitórias que se desfazem no ar,
como poeira que se sopra da mesa, e ainda assim pesa.
Vi vidas inteiras dedicadas
a preencher vazios que não têm fundo,
a acumular o que não cabe no peito,
a correr atrás do que não vive.
E eu, que só queria respirar,
tatear o sentido das coisas,
encontrei-me num mundo onde existir
é quase um ato de resistência.
E assim como nasci sem pedir,
também partirei um dia,
talvez contra minha vontade,
talvez por vontade própria,
mas partirei.
E nada levarei comigo
além da memória do que fui,
e nem isso durará.
Seremos esquecidos, todos,
como ondas que apagam os próprios rastros na areia.
Mas antes que o tempo me dissolva,
deixo estas palavras:
um poema, um sussurro,
um vestígio do que senti
ao habitar este breve intervalo entre dois silêncios.
Que o futuro saiba,
mesmo que por um instante,
como era ser eu
no mundo em que nasci
e do qual, inevitavelmente, partirei.
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Autor:
FILIPE4OLIVEIRA (
Offline) - Publicado: 12 de dezembro de 2025 13:21
- Comentário do autor sobre o poema: Este poema é uma reflexão sobre a existência, sobre o fato de ter chegado ao mundo sem escolha e viver em um tempo que muitas vezes não acolhe a sensibilidade humana. Ele fala da sensação de deslocamento: nascer em uma época onde se busca mais “coisas” do que “vida”, onde o valor das pessoas é medido por símbolos vazios, números, acúmulos e aparências. É também um desabafo sobre o desconforto de viver em uma sociedade que corre atrás de metas que desaparecem, enquanto ignoramos o essencial: sentir, explorar, existir plenamente. Há um sentimento de consciência profunda da finitude, de que um dia partiremos, talvez sem querer, talvez por escolha, mas inevitavelmente. O poema reconhece que tudo se apaga: memórias, posses, nomes. Mesmo assim, ele afirma um gesto de resistência: deixar palavras. Um poema como vestígio, como tentativa de que alguém no futuro entenda como era viver neste corpo, neste tempo, neste mundo. É, no fundo, um ato de sinceridade, um registro da própria alma tentando fazer sentido do lugar em que caiu, e do qual um dia, como todos, irá embora.
- Categoria: Triste
- Visualizações: 3

Offline)
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