MALDITO POEMA

joaquim cesario de mello

 

Maldito poema

que teima em sair ardendo

por detrás de dentro do meu peito

 

Maldito poema

que me puxa pela camisa

dizendo: olha o que sobrou

das migalhas da memória

do cheiro da última madrugada

e do silêncio em que mim ficou

 

Basta um nada

e ele já quer ser palavra

Basta um vazio

e ele já quer ter sentido

Basta um quase

um resto qualquer

um sopro invisível

e ele já quer preencher de versos

 

Maldito poema

que me surge sem eu pedir

que me confessa que não sou inteiro

que sou apenas um suspiro temporário

e que transforma minha vida mínima

em um espelho onde vejo

o que nunca serei e o que já não sou

 

Maldito poema

que é ele quem se escreve

e eu somente assino

 



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