Maldito poema
que teima em sair ardendo
por detrás de dentro do meu peito
Maldito poema
que me puxa pela camisa
dizendo: olha o que sobrou
das migalhas da memória
do cheiro da última madrugada
e do silêncio em que mim ficou
Basta um nada
e ele já quer ser palavra
Basta um vazio
e ele já quer ter sentido
Basta um quase
um resto qualquer
um sopro invisível
e ele já quer preencher de versos
Maldito poema
que me surge sem eu pedir
que me confessa que não sou inteiro
que sou apenas um suspiro temporário
e que transforma minha vida mínima
em um espelho onde vejo
o que nunca serei e o que já não sou
Maldito poema
que é ele quem se escreve
e eu somente assino