No centro do dia, onde o tempo respira curto,
descubro que o futuro é um mapa dobrado demais,
cheio de linhas que prometem caminhos
mas não aquecem as mãos que o seguram.
Prefiro este instante aceso,
onde a luz toca a pele sem pedir permissão
e cada segundo se comporta
como um animal selvagem que só existe
enquanto o olho acompanha.
Há uma claridade simples no copo que sua sobre a mesa,
na conversa torta que nasce entre amigos
e tropeça em risadas invisíveis.
O agora tem cheiro de pão abrindo o dia,
som de passos que não esperam instruções,
cor de tela piscando um episódio novo
enquanto deixo que o mundo lá fora
continue inventando seus calendários.
Aprendi que projetar amanhã demais
é erguer cidades onde nunca estarei,
e depois chamá-las de dívida.
Meu passado riscou na memória
uma estrada de alertas suaves:
o que adio cria salas vazias,
ecoando reuniões com fantasmas
que discutem alternativas vencidas.
No entanto, aqui — neste intervalo pulsante —
a vida se revela inteira,
com seus brilhos inesperados
e suas quedas que arranham,
ensinando que existir dói e encanta
exatamente na mesma medida.
Por isso recolho minhas construções tardias
e deixo o vento derrubar o que era miragem.
Fico com este momento estranho e verdadeiro,
onde o real tem as mãos sujas de terra
e ainda assim me oferece abrigo.
Se alguém chegar, que chegue leve,
trazendo somente o que possa ser partilhado —
um gesto, um riso, um sabor.
Porque é só no presente
que a vida permanece inteira o suficiente
para ser tocada.
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Autor:
Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (
Offline) - Publicado: 7 de dezembro de 2025 08:10
- Comentário do autor sobre o poema: Pessoalmente, parei de fazer planos de longo prazo – minha coluna de "futuro idealizado" no Excel estava roubando o tempo da minha coluna "maratonar séries agora". O presente é o único lugar onde a cerveja está gelada. Meu passado me ensinou o básico: se não for agora, é só uma reunião de “o que poderia ter sido”. Chega de construir castelos de areia em 2050. Bora apreciar este momento bizarro, porque ele é real, e as pessoas que vierem, bem... que tragam petiscos.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 5
- Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena, Spell mesclados, Sezar Kosta

Offline)
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