Eu gostaria, quem sabe um dia…
voltar a conversar com Deus sem medo,
como as crianças falam com o vento,
sem teologia, sem desconfiança,
com aquela fé que não pesa,
apenas pousa.
Eu gostaria, quem sabe um dia…
lembrar o nome das coisas simples,
o cheiro do pão, o silêncio da tarde,
a pureza que o tempo levou
como quem leva água nas mãos
e não percebe a perda.
Eu gostaria, quem sabe um dia…
desaprender a dureza do mundo,
essa engrenagem que mastiga sonhos,
que troca almas por algoritmos,
que vende esperança em prestações
e chama lucro de milagre.
Eu gostaria, quem sabe um dia…
entender por que os homens
esquecem tão rápido o essencial —
o abraço que salva, a escuta que cura,
a compaixão que devolve fôlego
a quem já respirava só por hábito.
Eu gostaria, quem sabe um dia…
reencontrar a verdade divina
no avesso da vida moderna,
onde tudo brilha, mas nada ilumina,
onde todos falam, mas ninguém confessa
o tamanho do próprio vazio.
Eu gostaria, quem sabe um dia…
aprender a amar com lucidez,
sem a ilusão dos mártires cansados,
sem o peso dos cínicos orgulhosos —
apenas amar,
como quem reconhece no outro
a última chance de redenção do mundo.
E se esse dia não vier,
que ao menos eu continue procurando,
mesmo entre ruínas, tumultos e telas,
um rastro de inocência que sobreviva,
um sopro de Deus que ainda resista,
uma luz pequena — mas honesta —
onde eu possa repousar a alma
e enfim dizer baixinho:
“eu me lembro.”
-
Autor:
Sezar Kosta (
Offline) - Publicado: 3 de dezembro de 2025 19:41
- Comentário do autor sobre o poema: Há momentos em que sentimos falta de uma fé simples, daquelas que não precisam ser explicadas, apenas vividas. O mundo corre tão rápido que nos faz esquecer o cheiro das coisas pequenas e o valor de um abraço que realmente sustenta. Mesmo assim, há sempre um ponto de luz que resiste, discreto, pedindo para ser notado. Talvez a verdadeira cura esteja justamente em continuar procurando esse brilho honesto que nos lembra do que ainda somos capazes de sentir.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 2
- Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta

Offline)
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.