No ventre mofado da noite,
um rumor de cacos respira.
O mundo range, torto,
como se um animal enorme
mastigasse meus ossos por dentro.
Tudo fede a ferrugem antiga,
a grito que nunca saiu,
a sombra que nunca dormiu.
As paredes do peito
chiam, racham, irregular,
como se quisessem cuspir o coração
em qualquer esquina sem testemunhas.
Há um caos que come as bordas da mente,
um lodo tão espesso
que engole cada passo,
mas ainda assim caminho —
arrastando as unhas
na superfície do vazio,
rabiscando sinais que ninguém lê.
E mesmo no fundo do fundo,
onde o silêncio tem dentes,
algo insiste —
um fiapo de fúria ou respiração —
uma teimosa centelha imunda
que recusa o fim
e me lembra, rosnando,
que o abismo não manda em mim.
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Autor:
SADE (
Offline) - Publicado: 2 de dezembro de 2025 08:20
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 11

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