o tempo não cura.
ou talvez cure tudo, menos a gente.
faz tanto tempo
que já nem lembro o primeiro dia
em que a dor resolveu morar em mim
Só sei que ela nunca mais pediu licença.
e eu ainda me encontro aqui,
sempre aqui,
no mesmo salão vazio
onde a solidão me estende a mão
e eu aceito,
porque já decorei os passos
dessa valsa que nunca termina.
as drogas, os exercícios,
rituais para enganar o corpo;
um passo pra longe,
dois passos de volta pro abismo
como se a tristeza fosse
o dançarino mais experiente da noite.
é estranho pensar
que esse universo inteiro
cabe dentro da minha cabeça:
um mundo paralelo,
um multiverso íntimo,
onde cada dor vira verso
e cada verso parece igual
mesmo quando sangra diferente.
e então penso no cometa
a ideia mais louca e mais doce que já tive.
um risco de luz rasgando a atmosfera,
colidindo comigo sem hesitar,
varrendo tudo o que já senti,
tudo o que ainda sinto,
tudo o que não sei como parar de sentir.
talvez eu só espere isso
um fim que não doa,
um silêncio que abrace,
um estrondo que limpe o mundo interno
não por querer deixar de existir,
mas por desejar, só por um instante,
existir sem dor.
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Autor:
Yves de Sá (
Online) - Publicado: 22 de novembro de 2025 02:02
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 3
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