Eu sempre fui dessas
que planejava a vida para dali a cinco anos —
como quem guarda uma taça de cristal
para brindar só quando virar adulta (se é que um dia isso chega).
“2028: Apreciar o presente.”
Escrevi assim, toda cheia de expectativas
e uma caneta dramática demais para o meu próprio bem.
Hoje rio — meio tímida, meio cúmplice —
do absurdo que é marcar no calendário
o dia exato em que vou me sentir viva.
É como comprar ingresso para um show
e ficar ali, na porta,
lendo a biografia do artista
enquanto a música já vibra no chão.
Ah, a ironia gentil do universo,
sempre disposto a me dar um tapinha no ombro
e sussurrar: “Menina, entra logo.”
A vida chega assim, sem avisar,
tipo visita que aparece na hora errada
e me encontra de pijama, descabelada,
com a geladeira servindo mais ecos que alimentos.
E ainda assim, ela sorri —
como quem diz que não liga para etiqueta
e aceita até café solúvel em copo de requeijão.
O passado, esse professor de humor duvidoso,
me ensinou com pequenas quedas
que a única coisa que se ganha com idealização
é dor nas costas de tanto carregar expectativa.
E eu, que já tentei alinhar a alma
com régua e prumo,
agora me vejo dançando com o próprio caos,
do jeitinho torto que ele pede.
Então repito — para mim mesma,
para o futuro que insiste em se adiantar,
e para o relógio que vive me julgando:
relaxa, menina,
aproveita o caos.
Ele também sabe cuidar de você
quando você para de tentar controlá-lo.
E, no fim, percebo sorrindo
que talvez o presente seja isso:
um pequeno improviso,
uma bagunça acolhedora,
um palco onde ninguém ensaiou —
mas todo mundo, de algum jeito,
brilha.
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Autor:
Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (
Offline) - Publicado: 19 de novembro de 2025 17:32
- Comentário do autor sobre o poema: Eu sou do tipo que planejava a vida para dali a cinco anos. Tinha metas ambiciosas: “2028: Apreciar o presente.” Percebi o absurdo. É como comprar um ingresso para um show e ficar na porta lendo a biografia do artista. A vida tem essa mania de chegar sem aviso prévio, tipo visita indesejada, e a gente precisa servi-la com o que tem na geladeira, não com o que sonhou em comprar no supermercado. Meu passado me ensinou uma lição valiosa: a única coisa que você ganha com a idealização é dor nas costas de tanto carregar expectativa. O segredo é: relaxa e aproveita o caos.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 5
- Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena, Arthur Santos, Sezar Kosta

Offline)
Comentários1
Um poema de agradável leitura.
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