Eu sempre fui dessas
que planejava a vida para dali a cinco anos —
como quem guarda uma taça de cristal
para brindar só quando virar adulta (se é que um dia isso chega).
“2028: Apreciar o presente.”
Escrevi assim, toda cheia de expectativas
e uma caneta dramática demais para o meu próprio bem.
Hoje rio — meio tímida, meio cúmplice —
do absurdo que é marcar no calendário
o dia exato em que vou me sentir viva.
É como comprar ingresso para um show
e ficar ali, na porta,
lendo a biografia do artista
enquanto a música já vibra no chão.
Ah, a ironia gentil do universo,
sempre disposto a me dar um tapinha no ombro
e sussurrar: “Menina, entra logo.”
A vida chega assim, sem avisar,
tipo visita que aparece na hora errada
e me encontra de pijama, descabelada,
com a geladeira servindo mais ecos que alimentos.
E ainda assim, ela sorri —
como quem diz que não liga para etiqueta
e aceita até café solúvel em copo de requeijão.
O passado, esse professor de humor duvidoso,
me ensinou com pequenas quedas
que a única coisa que se ganha com idealização
é dor nas costas de tanto carregar expectativa.
E eu, que já tentei alinhar a alma
com régua e prumo,
agora me vejo dançando com o próprio caos,
do jeitinho torto que ele pede.
Então repito — para mim mesma,
para o futuro que insiste em se adiantar,
e para o relógio que vive me julgando:
relaxa, menina,
aproveita o caos.
Ele também sabe cuidar de você
quando você para de tentar controlá-lo.
E, no fim, percebo sorrindo
que talvez o presente seja isso:
um pequeno improviso,
uma bagunça acolhedora,
um palco onde ninguém ensaiou —
mas todo mundo, de algum jeito,
brilha.