Maré da nostalgia.

ruhtra die

Sou grato por sentir a dor de ver o tempo passar.

Ele se esvai pela minha mão como a areia da praia. 

Escorre pelos meus dedos como o cabelo da bela moça.

Sinto, desde já, saudade de amigos que ainda não se foram.

Vejo com outros olhos - estes apaixonados - lugares que antes eu via com desdém ou indiferença.

Agora se apresentam com outros ares, com novos cheiros, tudo brilha, tudo - por mais antigo que seja - é tão novo.

 

Mergulho no mar, esse me envolve. Não me lembro, mas é como se estivesse no ventre de minha mãe novamente. É seguro se afogar. Sempre que paro de respirar por adentrar nessa gélida água irritada, deixo de ser quem sou por instantes, porém, meu Pai não solta a minha mão. Vejo quem fui, desgosto, gosto de novo, me entendo, tento me perdoar.

Toda vez que olho pro horizonte, vejo a infinitude do mar, vejo a finitude de memórias, degusto a nostalgia, sou perfurado pela saudade. Experimento outra vez tudo de novo. 

Provo tudo de bom que tenho vivido, faço um resumo do que tem me marcado, é tudo tão delicado, é como a areia quebradiça após uma madrugada difícil para o mar e para o vento.

Já sinto falta das conversas com ele, eu me olho no espelho, e é ele quem vejo.

Já sinto falta do cheiro dela, me sinto parte de sua pele.

Já sinto falta daquele cheiro de protetor solar, vem junto com o odor de peixe vindo com a brisa costeira.

Já sinto falta do que deixei de viver, e que na imaginação vivi.

Mas de todas as coisas, tenho medo de esquecer, tenho medo de ser esquecido.

Sou grato pela dor, essa sussurra no meu ouvido: "você amou e foi amado".

  • Autor: ruhtra die (Offline Offline)
  • Publicado: 15 de novembro de 2025 11:18
  • Categoria: Triste
  • Visualizações: 2


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