Sou grato por sentir a dor de ver o tempo passar.
Ele se esvai pela minha mão como a areia da praia.
Escorre pelos meus dedos como o cabelo da bela moça.
Sinto, desde já, saudade de amigos que ainda não se foram.
Vejo com outros olhos - estes apaixonados - lugares que antes eu via com desdém ou indiferença.
Agora se apresentam com outros ares, com novos cheiros, tudo brilha, tudo - por mais antigo que seja - é tão novo.
Mergulho no mar, esse me envolve. Não me lembro, mas é como se estivesse no ventre de minha mãe novamente. É seguro se afogar. Sempre que paro de respirar por adentrar nessa gélida água irritada, deixo de ser quem sou por instantes, porém, meu Pai não solta a minha mão. Vejo quem fui, desgosto, gosto de novo, me entendo, tento me perdoar.
Toda vez que olho pro horizonte, vejo a infinitude do mar, vejo a finitude de memórias, degusto a nostalgia, sou perfurado pela saudade. Experimento outra vez tudo de novo.
Provo tudo de bom que tenho vivido, faço um resumo do que tem me marcado, é tudo tão delicado, é como a areia quebradiça após uma madrugada difícil para o mar e para o vento.
Já sinto falta das conversas com ele, eu me olho no espelho, e é ele quem vejo.
Já sinto falta do cheiro dela, me sinto parte de sua pele.
Já sinto falta daquele cheiro de protetor solar, vem junto com o odor de peixe vindo com a brisa costeira.
Já sinto falta do que deixei de viver, e que na imaginação vivi.
Mas de todas as coisas, tenho medo de esquecer, tenho medo de ser esquecido.
Sou grato pela dor, essa sussurra no meu ouvido: \"você amou e foi amado\".