Sereia

Ester Araújo

Eu não chamo, eu arrasto.

Não canto pra ser ouvida,

canto pra possuir.

 

Quando mergulho em ti, o tempo se curva.

Tua respiração me pertence,

teu medo é meu perfume.

 

Sou feita de silêncio e abismo,

de correntes que não se veem.

Sou o sim que antecede o toque,

a vertigem que antecede o fim.

 

Tu vens — e nem sabe por quê.

É o sal, é o feitiço, é o que não se explica.

Eu te vejo inteiro antes de tocares o fundo,

e já estás perdido.

 

Não sou tua, nem de ninguém.

Sou da água que queima,

do fogo que afoga,

da vida que se oferece em forma de tentação.

 

E quando te prendo, não é prisão —

é batismo.

Porque amar-me é morrer limpo,

e renascer sujo de verdade.

  • Autor: Esterlar (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 12 de novembro de 2025 20:43
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 11
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