Entre Linhas e Desejo

Amarildo gastão

 

No silêncio onde a pele fala,  
e os olhares se tocam primeiro,  
há um poema não escrito,  
feito de suspiros inteiros.

Teu perfume dança no ar,  
como verso que se despe devagar,  
e cada gesto teu, tão sutil,  
acende meu verbo febril.

Tu és metáfora que queima,  
estrofe de carne e lume,  
e eu, poeta em tua pele,  
rimo calor com perfume.

Nenhuma palavra ousaria  
traduzir o que os teus lábios calam,  
mas meu corpo entende a poesia  
que tuas mãos declamam.

Entre lençóis de madrugada,  
desliza o poema mais nosso:  
sem rima, sem medo, sem nada —  
só desejo em tom mais grosso.

E este poema que só nasce à noite,  
quando a luz se cala nas frestas,  
e o silêncio se veste de desejo  
para ouvir os corpos que conversam.

Tua pele, meu livro favorito,  
onde meus dedos aprendem a ler  
sem pressa, sem vírgulas,  
só pontos de prazer.

Teu cheiro é verbo que me conjuga,  
no tempo presente e imperativo,  
onde cada toque é oração,  
e cada suspiro, um adjetivo.

Beijo-te como quem descobre  
um segredo guardado em brasas,  
e em cada curva tua, habita  
uma metáfora que me embriaga.

És poesia líquida entre os lençóis,  
rima que escorre sem ser dita,  
e eu, poeta faminto,  
bebo tua alma aflita.

Nas entrelinhas da madrugada,  
me perco entre estrofes e gemidos,  
porque teu corpo é meu poema livre,  
meu verso mais proibido.

E quando a aurora enfim chegar,  
com seus olhos de sol no horizonte,  
saberá que nesta noite escrevemos  
um livro inteiro — sem fontes.

Porque amar-te é redigir  
com a língua, com o peito, com a mão,  
uma poesia sem papel  
mas tatuada em combustão.

  • Autor: Amarildo gastão (Offline Offline)
  • Publicado: 9 de novembro de 2025 18:50
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 3
Comentários +

Comentários1

  • Arthur Santos

    O poeta tem o dom de traduzir sentimentos universais em palavras.



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