No silêncio onde a pele fala,
e os olhares se tocam primeiro,
há um poema não escrito,
feito de suspiros inteiros.
Teu perfume dança no ar,
como verso que se despe devagar,
e cada gesto teu, tão sutil,
acende meu verbo febril.
Tu és metáfora que queima,
estrofe de carne e lume,
e eu, poeta em tua pele,
rimo calor com perfume.
Nenhuma palavra ousaria
traduzir o que os teus lábios calam,
mas meu corpo entende a poesia
que tuas mãos declamam.
Entre lençóis de madrugada,
desliza o poema mais nosso:
sem rima, sem medo, sem nada —
só desejo em tom mais grosso.
E este poema que só nasce à noite,
quando a luz se cala nas frestas,
e o silêncio se veste de desejo
para ouvir os corpos que conversam.
Tua pele, meu livro favorito,
onde meus dedos aprendem a ler
sem pressa, sem vírgulas,
só pontos de prazer.
Teu cheiro é verbo que me conjuga,
no tempo presente e imperativo,
onde cada toque é oração,
e cada suspiro, um adjetivo.
Beijo-te como quem descobre
um segredo guardado em brasas,
e em cada curva tua, habita
uma metáfora que me embriaga.
És poesia líquida entre os lençóis,
rima que escorre sem ser dita,
e eu, poeta faminto,
bebo tua alma aflita.
Nas entrelinhas da madrugada,
me perco entre estrofes e gemidos,
porque teu corpo é meu poema livre,
meu verso mais proibido.
E quando a aurora enfim chegar,
com seus olhos de sol no horizonte,
saberá que nesta noite escrevemos
um livro inteiro — sem fontes.
Porque amar-te é redigir
com a língua, com o peito, com a mão,
uma poesia sem papel
mas tatuada em combustão.